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domingo, 25 de junho de 2023

EDUCAÇÃO NA AMAZÔNIA EM REPERTÓRIO DE SABERES, VOLUME 2 (POEMA)

 

*Carlos Prestes



Informações sobre o poema:

- O poema contém 12 Cantos

- Cada canto com 40 linhas poéticas, divididas em 5 estrofes de 8 linhas cada.

- Total de 480 versos ou linhas poéticas.

- Um coro (estrofe) com 4 linhas poéticas fixas (que se repete no final de todos os cantos)

- O canto 1 está construído em versos decassílabos (10 sílabas poéticas)

- O canto 2 está construído em versos alexandrinos (12 sílabas poéticas)

- Do canto 3 até o canto 12 os versos são construídos todos em versos Heterométricos (versos livres, chamados também de irregulares, que não seguem um padrão de métrica definido)

 

 

CANTO I: APRESENTAÇÃO (em versos decassílabos)

 

1

Como posso eu apresentar-te, oh LIvro!

Sem que me envolvesse com os reGIStros

De tuas histórias, tudo tão VIvo

Simples histórias que guardam resQUÍcios

 

De momentos há mui escondidos no ÍNtimo

E quando dão-se a passear meus Olhos

Pelos corredores de teus paLÁcios

Sinto aqui que és a última flor do LÁcio...


2

Lácio que, na escrita, vos dita os MOdos

Última flor em terra de paraENse

Cujo chronos nos sopra ventos NOvos

Que chegou ao polo abaetetuBENse.

 

O pesquisador aguça seus Olhos

E, meio encabulado e pertiNENte

Vendo o tempo encurtar-se sobreMOdo

Lança o convite ao amigo doCENte...


3

Ah, doce docência que adoça o COSmos!

Em idos de anos não tão reCENtes

Este professor não mediu esFORços

Em caminhar no caminho deCENte.

 

Conhece na educação os perCALços

Pois no SOME já passou por disCENte

E ainda assim lhe respinga dos Olhos

A vivência que a lágrima não PRENde...


4

Abre as páginas e discorre o TEXto

Ainda bruto – a caneta anota TUdo

E como se falasse de si MESmo

Muito se agrada de tal esTUdo.

 

Lê, relê e analisa todo o TEXto                     

O autor está ali, presente, siSUdo          

Logo vê que o escrito tem conTEXto

E experimentar memórias é TUdo...


5

Por isso, o texto lhe traz muito aPREço

Cujas vivências são o maior LUcro

Deixado por um legado coEso

Que avança e só avança, sem reCUo.

 

Paulatinamente lê-se os exCERtos             

Sem decair-lhe os erros do abSURdo

Nem deixar jamais o leitor surPREso

Por fazer-se do livro esse bom Uso...


6

Ah, Amazônia! Teu povo Grita, GEme!

Mas vem e mostra teu vasto reperTÓrio

De tão saberes, pro gringo, pra essa GENte

Antes que te tomem a flora, a fauna, o terriTÓrio...

 

  

CANTO II: PREFÁCIO (em versos alexandrinos) 

 

1

Como hei de prefaciar-te, oh, livro de saBEres!

Pois que tantos saberes existem em TI

Se das águas do Amazonas pode beBEres

Tu que promoves debates para JaCI.

 

Ah! As reflexões suscitam os inteREsses

Que tenho em lê-lo, se em ti há coisas que viVI

Viver nas andanças desses rios com deVEres

De quem leva a profissão até JuruTI...


2

Eu sou Ana... Da Conceição... Do moduLAR

E quando trilho meus pés nessas viciNAis

De lembrar, faço-me rir, faço-me choRAR

Porque se foi um tempo que não volta MAIS.

 

Anos se foram... Só pegadas pra lemBRAR

Dos lugares, gente simples, memoriAis

De aulas que a esponja do tempo ousa apaGAR

Porém, os impressos, vão ficar nos aNAis...


3

Anais que tatuaram as linhas de um proJEto

Levado aos rincões, pelo interior do esTAdo

Tudo inédito, bem assim, como em céu aBERto

O tal somista foi espalhando aprendiZAdo.

 

Ah, como é bom falar do modular, deCERto

Daqueles que deixaram o solo planTAdo

Fazendo com que o sonho fosse descoBERto

E o currículo fosse assim apresenTAdo...


4

É mister pensar uma linha ao RibaMAR

Cujo sistema modular foi-lhe a moRAda

Não só isso, mas os louros anos a viaJAR

Em nada antes do SOME jamais se comPAra.

 

E não se faria justiça à mestra MaRIna

Que em tantos protestos defendeu o profeSSOR

Que caminhou também por entre rios e TRIlhas

Por tanto tempo ao menos sem ver o seu aMOR...


5

Tudo foi se acertando, com todos soNHANdo

E o livro assim nascendo com o NasciMENto

Que leu cada artigo que lhe iam enviANdo

E não pensou em desistir em nenhum moMENto...

 

De momentos e momentos se vão forMANdo

O pensamento...  Que vai ganhando o paPEL

 Que se molha nas ribeiras do meu enCANto

Águas, estradas, onde passa o menesTREL...


6

Ah, Amazônia! Teu povo Grita, GEme!

Mas vem e mostra teu vasto reperTÓrio

De tão saberes, pro gringo, pra essa GENte

Antes que te tomem a flora, a fauna, o terriTÓrio...

  

 

CANTO III: ARTE - REFLEXÕES, EXPERIÊCIAS, VIVÊNCIAS (em versos heterométricos) 

 

1

O que é arte senão a poesia que ilumina os Olhos?

Os olhos captam a poesia e me enredam em refleXÕES

As reflexões me trazem experiências de todos os MOdos

E os modos são as vivências percorridas em meio aos rinCÕES.

 

Os rincões trazem reflexões, que se fundem em proPOStas

Que geraram este artigo, tão leGÍtimo

E essas viagens do modular me trazem lembranças diTOsas

De tempos, de aventuras, de uma vida com algo significaTIvo...


2

Lá fui eu pra Santarém, terra que amei como ninGUÉM

Era o ano de mil novecentos e oitenta e NOve

Ali conheci professores que me quiseram muito BEM

Ministrando disciplinas da minha formação qu’inda hoje me coMOve.

 

Lecionei Português, Literatura e Língua EstranGEIra

E toda atividade cultural na disciplina se espeLHAva

Tudo de acordo com o currículo, disso eu tinha cerTEza

Pois bem sei que aquela equipe tinha a profissão que aMAva


3

Ah, equipe dinâmica que enveredava pelas questões da educaÇÃO!

Coisa muito ampla, não deixando nada de fora das discuSSÕES

Desde o meio ambiente, higiene, tudo era prevenÇÃO

E se servia? Sim, servia pra aprender muitas liÇÕES.

 

Como não se aprende nas aulas do moduLAR?

Vi a comunidade sendo chamada pra conversar sobre aSSUNtos

Que interessavam ao coletivo, ao dito popuLAR.

E é esse diferencial do SOME que une professor e aLUnos.


4

No arquipélago do Marajó, na cidade de CurraLInho

Banhada pelo rio Canaticu, deu-se a chegada do ModuLAR

Com grande festejo naquela comunidade de irmãoZInhos

E, ali, começava o desafio da arte de ensinar arte, arte de ensiNAR.

 

Logo no primeiro dia de aula a realidade já se mosTRAva:

Energia de motor que funcionava de seis e meia às nove e MEIa

E na hora da aula toda a turma no sono peGAva.

Uma cena que era mister ser mudada... E eu refletia à luz da canDEIa...


5

Ora! Ora! Porque não coletar narrativas de assombraÇÃO?                          

O imaginário já se evidenciava na mente da garoTAda

Que a tudo escrevia e apresentava em pintura, fantoche ou dramatizaÇÃO

E isso tudo ia elevando o conceito da arte em sala de AUla.

 

Motivados pelas experiências de estar num lugar hoje e manhã NOUtro

De perceber outras realidades, nessa dinâmica de viAgens

Toda essa jornada deu-nos grande arcaBOUço

Trazendo pra nós e pra sala de aula, grandes aprendiZAgens.


6

Ah, Amazônia! Teu povo Grita, GEme!

Mas vem e mostra teu vasto reperTÓrio

De tão saberes, pro gringo, pra essa GENte

Antes que te tomem a flora, a fauna, o terriTÓrio...

 

   

CANTO IV – PROPOSTAS E REGISTROS DE MEMÓRIAS (em versos heterométricos) 

 

1

Quando nasce o primeiro aMOR?

Na flor da iDAde

Quando tudo é possível e o mundo é multiCOR?

Ou quando a experiência traz a maturiDAde?

 

Bem sei que nem tudo são flores, nem utopia, nem realiDAde

Pois quando se decide ser profeSSOR

Não se dá por vaidade, mas talvez por necessiDAde

De ver seu aluno de escola pública subir e ser douTOR.


2

Por isso se vive nessa guerra sanGRENta

Em constantes debates entre o educador e o ditaDOR

Onde a pedagogia escorrega por trilha lamaCENta

E cai, e levanta, ferida, sem que o senhorio atente ao seu claMOR.

 

Que importância tens, oh, educaÇÃO!?

Pois vives na penúria, sob as miGAlhas

De quem prometeu te cuidar, e não cuida NÃO        

Que ora é uma facção que arrota como rasga morTAlha.


3

Eis à mão a tua proposta que se apreSENta

Pras comunidades do interiOR

Não sem deixar de lembrar as memórias daquela gente aTENta

Dos registros de sua história que passa, que passou seu precursOR.

 

Quem foram teus ancestrais, oh Amazônia paraENse!?

O índio, o português decadente, o negro esCRAvo!

Eis a etnogenia deste povo, de tão diversa GENte

O mameluco, o cafuso, o muLAto.


4

Ah, se morre de amor? Não! Se vivifica! Não mata, NÃO!

Assim também se dá no laboratório moduLAR

Entre viagens, debates e projetos de intervenÇÃO

A proposta vai avançando até se concretiZAR.

 

Também há que se dizer das histórias contadas desses luGAres

Que se tornaram narrativas, que se tornaram em meMÓrias

Dos projetos de histórias, memórias e oraliDAdes

De pessoas antigas, que narravam com muito gosto suas PROsas.


5

Cultura e educação, dois nomes que se FUNdem

Em linguagens, em hábitos, costumes, uma só aÇÃO

Que permeia o campo e o livro, que os reMEtem

À ciência da questão, à dúvida, à indagaÇÃO.

 

Assim se vai trabalhando pra crescer o enSIno

Pra que o país não vá se afuniLANdo

Pra que não se perca pra droga o meNIno

E a oportunidade se dê a todo eduCANdo...


6

Ah, Amazônia! Teu povo Grita, GEme!

Mas vem e mostra teu vasto reperTÓrio

De tão saberes, pro gringo, pra essa GENte

Antes que te tomem a flora, a fauna, o terriTÓrio...

 

  

 CANTO V – CIDADE DAS ÁGUAS (em versos heterométricos) 

 

1

Oh, cidade das águas! Veneza marajoAra!

És diferente de todas as VeNEzas

Cujas águas são como ruas inTEIras

Sob palafitas por onde eu paSSAra.

 

Oh, cidade das bicicletas! Copenhagen da AmaZÔnia

Onde as águas ribeirinhas te BEIjam

Poética menina, em que meus sonhos veLEjam

E até me embalam em marés de inSÔnia...


2

Vai o regatão pelos pioneiros lugares, vizinhança de AfuÁ

Pois o sonho chegou primeiro em Ponta de Pedras, depois BREves

Muaná, Salvaterra e Portel, e vai onde bem quiSEres

Galgando às águas de Almeirim, Terra Santa onde se ouve o chuá... Chuá.

 

As águas cantam e me encantam, quando ao ribeirinho deCANtam

Mensagens que dizem: “a educação salvou minha VIda!”

Essa coisa de salvar e educar será pra sempre a minha SIna

Pois é para os que poetam, sonham e Amam.


3

Isso tudo me lembra Melgaço, terra de nascimento de meu PAI

Que, aos doze anos, já virou chefe de família, isso era prioriDAde

E no mato foi trabalhar, deixando escola, essa dura realiDAde

Que levou a criancice da criança e o canto triste, oh, escuTAI!

 

De lá migraram para Portel, no MaraJÓ

Ali foram em busca de melhor condição de VIda

Ali o pai trabalhou em madeireira sem muita perspecTIva

Ali conheceu minha mãe, seu xoDÓ.


4

Tudo se complicou e a família voltou pra AfuÁ

O pai foi trabalhar no serviço braÇAL

Numa peleja de vinte e sete anos sem iGUAL

Até que, por fim, conseguisse se aposenTAR.

 

Mas o tempo passou, eu fui crescendo e fui estuDANdo

Ah, quando lembro dos aprendizados daqueles dias de OUro

Dos professores, dos ensinos... Sim, hoje guardo como teSOUro

E os colegas de aula, que eu bem sei, estão por aí voANdo.


5

Eu também voei, e como voei para fora do labirinto que me aprisioNAva

A educação me proporcionou tudo Isso

E me fez enxergar quão grande é o comproMIsso

Do bater asas e se importar com quem se imporTAva.

 

Exercitar a memória é preciso... Transcreve-la também é preCIso

E assim se formam as narrativas por essa personagem aqui viVIdas

Lembranças contadas de forma intensa e puramente veRÍdicas

De um caboclo do Marajó que aqui registro, e pelo seu povo é benQUISto...


6

Ah, Amazônia! Teu povo Grita, GEme!

Mas vem e mostra teu vasto reperTÓrio

De tão saberes, pro gringo, pra essa GENte

Antes que te tomem a flora, a fauna, o terriTÓrio...

 

  

CANTO VI – SER OU NÃO SER PROFESSORA (Versos heterométricos) 

 

1

Ser ou não ser professora, eis a quesTÃO!

Dentro do ser um turbilhão de perGUNtas

Entre o eu pesquisadora ou dar aula pra alunos e aLUnas

Eis a vida quebrando sonhos, impondo condiÇÃO.

 

Ingressei no Sistema de Organização ModuLAR

Sem olhar pra traz, pra frente, pra onde eu iRIa

Eu ia pra Aveiro, onde ficava eu nem saBIa

Mas era pra onde iam me manDAR.


2

E a Ester haja me perguntar: queres realmente ir pra LÁ?

E eu lembro que só respondia sim! SIM!

Pensando na família em Belém que agora dependia de MIM

Uma realidade que a moça da cidade precisava encaRAR.

 

Não apanhei um táxi pra estação luNAR

Mas um Boing pra Santarém, de onde, lá do ALto

Avistei o Amazonas e o Tapajós, cujas águas eram o seu asFALto

Aquele cenário pros outros professores era muito peculiAR...


3

Minha realidade se chocou com outras realiDAdes

Em Santa Cruz conheci as Rubilenes da AmaZÔnia

Tão jovem, amasiada, com criança, que com estudo nem SOnha

Pois a dura realidade lhe roubou toda a mociDAde...

 

 Ali tudo era um desafio consTANte

Parecia que eu estava em outro esTAdo

Na casa não tinha energia, nem água pra banho encaNAdo

Não tinha fogão, não tinha nada... Era um problema giGANte...


4

Veio a festa das flores na cidade de AVEIro

Muita animação, pois a festa era tradiÇÃO

Mas quem disse que por traz de um sorriso não há desafeiÇÃO

Se uma aluna minha teve picotado o seu caBElo.

 

Quando leio e releio meu diário, parece que nem acreDIto

No tudo que vivi naquele lugar, que quase não se tinha o que coMER

E que pena daquela gente, que tinha que assim viVER

Pois também experimentei a fome, isso eu digo e rePIto...


5

Um trabalho singular, assim se define essas experiÊNcias

Entre profissionais que convivem na mesma CAsa

Lá se vê atritos, amizades, discordâncias e gargaLHAdas

Uma mistura de calor humano com coerências e diverGÊNcias...

 

Entre tantas aventuras, nem sempre as memórias são BOas

Pois que com álcool me acidentei, e foi todo um alvoROço

Pra que eu tivesse bem e em Belém tivesse rePOUso

Mas sei que tu, Deus, ainda hoje me abenÇOas...


6

Ah, Amazônia! Teu povo Grita, GEme!

Mas vem e mostra teu vasto reperTÓrio

De tão saberes, pro gringo, pra essa GENte

Antes que te tomem a flora, a fauna, o terriTÓrio...

 

 CANTO VII – ESTRADAS POR ONDE ANDEI (em versos heterométricos)

 

1

Há tantas estradas no percurso de apenas uma única VIda

Estradas íngremes, estradas asfaltadas, tortas e REtas

Estradas que levam a todo lugar, sem rumo, sem MEtas

Estradas de águas, de nuvens, labirinto sem saÍda.

 

No norte do país há tantas esTRAdas

Tantas que não podem ser contadas seQUER

Mas podem ser cantadas e autobiograFAdas

Porque são pegadas na memória de uma dita muLHER.


2

Aqui está o cuidado que se tem de fazer uma narraTIva

Uma história contada, por certo autobiograFAda

Que se vai cavando nas memórias faLAdas

Com leitura, anotações e pesQUIsa.

 

A quem perguntar onde tudo começa e tudo se FINda?

A narrativa dirá que tudo se dá em BraGANça

Mas que Bragança? A da família real que ora se dá por heRANça?

Não, mas é uma cidade interiorana pitoresca e LINda.


3

E como que se debatesse entre histórias de vida e formação doCENte

A pesquisa vai ganhando ares de tema imporTANte

Esmiuçando os seus autobiográficos a todo insTANte

Buscando entender a relação entre docente e disCENte.

 

Ah, o senso comum abriga-se no colo da ciÊNcia!

Como uma criança, busca a sua identificaÇÃO

Pois ninguém há sozinho no mundo sem nenhuma raZÃO

E as narrativas de vida refletem as suas aconteCÊNcias...


4

Ah! Vou te contar que tem tanta coisa que me faz matuTAR

Nas tantas experiências de sala de AUla

Tanta história pra contar, mas uma me sacode a ALma

Quando eu estava aprendendo e ensinando no moduLAR.

 

Havia um garoto, meu aluno, que dava o que faLAR

Não parava quieto, não prestava atenção e o rumo era inCERto

Mas com cuidado e diálogo o coraçãozinho foi sendo aBERto

E isso me trouxe uma satisfação que não se pode imagiNAR...


5

Que atitude transgressora que faz a educação pular MUros

Sacudindo o currículo do livro padroniZAdo

Tornando a escola mais do que bancos ou ensino metrifiCAdo

Libertando professor e aluno em busca de novos RUmos.

 

Ah! Que experiência viralizante na formação doCENte

Antes condicionada a experiências externas rotuLANtes

Que furtavam o brilho dos olhos de estuDANtes

Quando o que se mais queria era que o professor fosse GENte...


6

Ah, Amazônia! Teu povo Grita, GEme!

Mas vem e mostra teu vasto reperTÓrio

De tão saberes, pro gringo, pra essa GENte

Antes que te tomem a flora, a fauna, o terriTÓrio...

 

  

 CANTO VIII – CAMETÁ E A REALIDADE ESCOLAR (em versos heterométricos) 

 

1

As nossas estradas são estradas de águas, de beira-MAR

Águas revoltas, águas turvas, águas MANsas

Que desafiam o dia a dia do jovem, da criANça

Uma realidade que se impõe à vida escoLAR.

 

Qual metodologia aqui neste contexto se aPLIca

Num diálogo entre teoria e prática de avaliaÇÃO

Cujo ajuntamento de aprendizagem traz à refleXÃO

A educação no campo com ditosa primaZIa...


2

Mas quão triste é a avaliação numérica do estuDANte

Que lê e relê pra guardar na mente a matéria da PROva

Cujo conhecimento só fixa naquela HOra

Pra logo depois tudo voltar a ser como DANtes.

 

Há de se impor autoridade pelo emudecimento da sala de AUla?

A prova é tão simbólica como a laranja meCÂnica

Mas a constância do ato só mostra essa panoRÂmica

Quando a criatividade ao professor lhe FALta...


3

E como se dá todo esse critério de avaliar no sistema moduLAR

Em se tratando de aspectos pedaGÓgicos

Não há muito que se mudar nos quesitos teÓricos

Pois se cobra o mesmo que se cobra no reguLAR.

 

Ah, mais há também que se comunicar em tempo oporTUno

Que o professor da própria cabeça pode criAR

Formas diversas de avaliar o aluno do moduLAR

Com ferramentas que apontem pro seu MUNdo...


4

Então, como não acolher, quando a avaliação lhe dá praZER?

Se na diversidade de instrumentos se dá a jusTIça

Vai-se o medo da prova e só resta a empaTIa

Pela atividade que lhe convida a aprenDER.

 

Em mar revolto vão os nossos heróis das raBEtas

Nas malas levam o que podem leVAR

Dvds, livros, gravador, tudo pra incentiVAR

Avaliador e avaliado numa troca de ideias coEsas...


5

Mas então, por causa disso ou daquilo, vamos nos acomoDAR?

Deixar de fazer o que se tem pra faZER

Permitindo que o desânimo nos possa venCER

Ou vamos juntar o que tem e começar a criAR?

 

Pra ensinar no campo tem que ser mais que profeSSOR

Tem que revolver céus e terra, diferente do ensino urBAno

Porque lá, no interior, o fessô vive o que é ser huMAno

Lá, ele cai, levanta e do aluno ele também sente a DOR...


6

Ah, Amazônia! Teu povo Grita, GEme!

Mas vem e mostra teu vasto reperTÓrio

De tão saberes, pro gringo, pra essa GENte

Antes que te tomem a flora, a fauna, o terriTÓrio...

 

 CANTO IX – ENTRE O PÚBLICO E O PÚBLICO-PRIVADO (versos heterométricos) 

 

1

Já se vão anos e anos, e os cabelos vão ficando BRANcos

Que o público-privado foi tomando conta do enSIno

Isso já ouço falar desde ainda meNIno

Quando nos tempos de D. Pedro I o ensino já era saltimBANco.

 

Ora, ora, que se dirá da escola? Que é uma instituição aBERta?

Veja-se nas páginas da brasileira hisTÓria

Como que a escola desde aqueles idos CHOra

Posto que o tanto de analfabetos fazia dela uma moradia inCERta...


2

Assim, na incompetência do governo brasiLEIro

O ensino público-privado foi galgando esPAço

Deixando o pobre de fora, como que amordaÇAdo

Sem conhecimento pra reivindicar seu diREIto.

 

Nos dias de hoje por que se investe bem no priVAdo

E no público se vai empurrando com a baRRIga

Se a classe pobre é que tanto preCIsa

Sobrando-lhe não mais que um ensino mal remuneRAdo?


3

O modular trouxe a política de incluSÃO

Abrangendo vasta região do estado do PaRÁ

Pra garantir o ensino pro estudante lá, no seu luGAR

Junto do pai e da mãe, até a sua concluSÃO.

 

Mas não se pode nem dormir e nem pisCAR

Pois o sistema educacional interaTIvo

Quer mercantilizar tudo que se chama enSIno

E o lugar do modular de vez abocaNHAR...


4

Agora se luta com palavras e com PUnhos

Pois a fome capitalista de devorar o que é PÚblico

Não se contenta enquanto não tiver em mãos até o ÚLtimo

Dos ensinos a favor de si como seu testeMUnho.

 

E nessa onda de terceirização irresTRIta

O professor vai se tornando operador educacioNAL

Uma ferramenta substituída por “melhor profissioNAL”

Privatizando a educação com desigualdade sem meDIda...


5

Entre o SEI e o não SEI o que ensiNAR

Vai-se numa luta ferrenha no CAMpo

Cujo ensino à distância se distância TANto

Que o que se quer mesmo é o presente professor do ModuLAR.

 

Pois a tutoria traria consigo também a utoPIa

De uma tecnologia onde pouco se pode funcioNAR

Se a energia se for e a luz em derredor apaGAR

Então, foi-se a aula e professor, só resta a nostalGIa...  


6

Ah, Amazônia! Teu povo Grita, GEme!

Mas vem e mostra teu vasto reperTÓrio

De tão saberes, pro gringo, pra essa GENte

Antes que te tomem a flora, a fauna, o terriTÓrio...

 

   

CANTO X – VOZES DOS EGRESSOS (em versos heterométricos) 

 

1

Por onde andam as vozes dos eGREssos

Por onde andam aquelas VOzes

Que ainda ouço tão perto, tão FORtes

Por onde andam aqueles eGREssos?

 

Egressos do curso de magisTÉrio

Que tiveram uma experiência formativa diferenciAda

Lá, nos rincões da Amazônia privilegiAda

Deu-se a conclusão do Ensino MÉdio...


2

E como que se dá a experiência de sete egressos do magisTÉrio

Num estudo cujo objeto é o aspecto pedaGÓgico

Buscando do entrevistado um falar simples e LÓgico

Tentando, assim, avaliar-lhe os seus criTÉrios?

 

E, assim, se foi selecionando os conteúdos do CURso

Do ensino as abordagens teórico-metodoLÓgicas

Em que para Professor e aluno a coisa deixou de ser reTÓrica

Pois iria influenciar o seu perCURso...


 3

Olha que vem uma metodologia inovaDOra!

Professor dialoga, escuta e respeita a ideia do aLUno

Quer entender e participar do seu MUNdo

E nesse processo de aprender fazendo a educação é transformaDOra.

 

Educar é se relacioNAR

Professor e aluno, aluno e aLUno

Pois a vida de todos cabe no mesmo MUNdo

E assim, em sala ou fora, se deu no moduLAR...


4

Ah, o magistério edificou escadas que antes não se podia galGAR!

E o que tudo isso significou na vida pessoal e profissioNAL

De quem antes não conseguia completar o ensino forMAL?

Abriu portas... Hoje se chega aonde se quer cheGAR.

 

Olha, o que me marcou nesse processo de aprenDER

É que avaliavam não os meus erros ou aCERtos

Mas me fizeram entender limites e conTEXtos

Para que no conhecimento pudesse cresCER...


5

E, assim, se vão multiplicando as someanas narraTIvas

Nas vozes de egressos que ora nos enCANta

Com testemunhos que trazem muita confiANça

Na metodologia pedagógica que serviu pra VIda.

 

Assim, se faz, na prática, a educação formaTIva

Num espaço público que liberta a expreSSÃO

E faz docente e discente trabalhar em comuNHÃO

Fazendo a educação atuar de forma aTIva...

 

6

Ah, Amazônia! Teu povo Grita, GEme!

Mas vem e mostra teu vasto reperTÓrio

De tão saberes, pro gringo, pra essa GENte

Antes que te tomem a flora, a fauna, o terriTÓrio...

 

 

CANTO XI – OS SOMISTAS (em versos heterométricos)

 

1

Oh, como que não se pode então valoriZAR

A desafiante carreira de magisTÉrio!

Como que ainda se ouve tamanhos improPÉrios

Da parte de quem nunca soube dialoGAR!

 

Nunca a conquista vem sem árdua luta desbraVAR

Pra remunerar bem quem leva a educação a SÉrio

Mesmo injustiçado por língua e falar deleTÉrio

Pois o embate continua no campo a se traVAR...


2

Não sem muita luta e suor se conseguiu a gratificaÇÃO

SOME no PCCR como que uma estaca no peito a se craVAR

Trazendo diferença remuneratória entre o modular e o reguLAR

Fruto de organização e constante reivindicaÇÃO.

 

Tudo parece quase igual no quadro comparaTIvo

A gratificação de magistério, as aulas suplemenTAres

E até a escolariDAde

Mas a gratificação SOME e alimentação mostram outro quantitaTIvo...


3

Ah, mas o que chamou a atenção do profeSSOR

Pra deixar sua terra natal e viajar pra longe de LÁ?

Deixando família, amigos, conforto do lado de CÁ?

Como se a estrada fosse o próprio papel do escriTOR.

 

Sei que uma coisa lhe chamou a atenÇÃO

Salário bem melhor que do reguLAR

Naquele tempo não era muito peculiAR

Mas no início, sim, foi por causa da gratificaÇÃO...


4

Mas logo vem o Simão, SiMÃO!

Que modificou a base de cálculo dos saLÁrios

Pois eis que ele era o tal mandaTÁrio

Reduzindo os honorários a salário de aNÃO.

 

Pois quem iria gostar de ver seu salário minGUAR

Pela invenção das categorias A, B e C

Salário maior ou menor conforme a dificuldade de sobreviVER

Pois até a letra C quase que nem conseguia respiRAR...


5

Ah, Simão, Simão! Querias acabar com a gratificaÇÃO

Integral, desmantelando o SOME como se fosse teu riVAL

Eliminando esse ensino para sempre de forma oficiAL

Mas não pudeste dar cabo a essa missão porque houve mobilizaÇÃO.

 

A categoria se uniu junto com o SINTEP

E foi pras ruas protestar em favor do ensino moduLAR

A fim de o decreto do governador baRRAR

Era tudo ou nada em meio aos seus reVEzes...


6

Ah, Amazônia! Teu povo Grita, GEme!

Mas vem e mostra teu vasto reperTÓrio

De tão saberes, pro gringo, pra essa GENte

Antes que te tomem a flora, a fauna, o terriTÓrio...

 

 

 *O autor é poeta, escritor e ex-professor do Sistema de Organização Modular de Ensino - SOME

 

 

    

CANTO XII – EXPERIÊNCIAS DE INTERIORIZAÇÃO (em versos heterométricos)

 

 

1

Expandir, expandir! Ampliar, ampliAR!

Eis o processo de interiorizaÇÃO

Que oportuniza o ensino em maior conceSSÃO

Para que todos possam enfim estuDAR.

 

Antes dessa regulamentaÇÃO

Mui pouco nessa vida se podia espeRAR

Da parte de quem devia oferTAR

O livre acesso à educaÇÃO...


2

Mas decerto que o modular veio pra essa realidade muDAR

Passando dos dezessete municípios onde tinha o secunDÁrio

Multiplicando as ofertas de vagas no interior do esTAdo

E o ensino superior também alavanca pra quem quiser curSAR.

 

E então o senhor Manoel Moutinho tinha pela frente este desaFIo

De colocar professor e professora em sala de AUla

Pois que havia no estado grande déficit de mão de obra especialiZAda

Mas a escola pra habilitar pessoas tinha e tem grande podeRIo...


3

Mas em 1981 a FEP se separa do moduLAR

Pra criar agora um plano de ensino superiOR

Com medicina, educação física, enfermagem para atender o claMOR

De estudantes do estado do PaRÁ.

 

E assim à tutela da SEDUC passou o ensino moduLAR

E o ensino secundário tão restrito no interiOR

Já não seria mais apenas um mero expectaDOR

Pois a oferta de vaga para estudar iria aumenTAR...


4

Transpor barreiras era o que se espeRAva

No ensino superior quando chegou ao interiOR

Tendo no exemplo do SOME o seu idealizaDOR

E foi assim se alojando em Conceição do AraGUAIa.

 

Ah, que lacuna que foi preenCHIda

Com a instituição da universidade estaduAL

Expandindo a interiorização pra um espaço essenciAL

Ofertando, além de Belém, o curso de PedagoGIa...

 

 

5

Que marco histórico que registra a educação no PaRÁ

Pois eis que depois do ano de mil novecentos e noVENta

Entram na embarcação os cursos de enfermagem e educação FÍsica

E vão aportar no Araguaia, Altamira, Paragominas, MaraBÁ.

 

Que influencia notável teve esse moduLAR

Sendo referência no Amazonas, Mato Grosso, AmaPÁ

E em dezenas de municípios do estado do PaRÁ

Ah! Que mais que se há de faLAR?


6

Ah, Amazônia! Teu povo Grita, GEme!

Mas vem e mostra teu vasto reperTÓrio

De tão saberes, pro gringo, pra essa GENte

Antes que te tomem a flora, a fauna, o terriTÓrio...



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