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domingo, 13 de fevereiro de 2011

A QUESTÃO MÉDICA NO BRASIL

                                                                                     Valdivino da Silva Cunha*

Assim como existe a questão agrária, questão da segurança pública a questão da fome, da educação, entre outros temas de relevada importância para o país, deveria haver também, no Brasil, a questão médica. É verdade que não resolveríamos todos os problemas, assim como não são resolvidos as demais questões aqui citadas, mas pelo menos se abria um grande debate sobre essa temática. Se ao menos discutíssemos o papel dos profissionais da saúde em nosso Brasil, notadamente dos médicos, já seria um grande avanço, vejamos por que.



Desde mil e quinhentos, quando os portugueses invadiram nosso Brasil, a profissão de médico sempre foi um privilégio das classes elitizadas. Tem lá suas exceções, é claro, afinal, toda regra tem exceção. E por que isso acontece? Simples. Porque as elites não querem que outras classe invadam seus espaços, ora bolas! É aquilo que os economistas chamam de reserva de mercado. Evidentemente que elas constroem suas próprias justificativas. Passam-nos, por exemplo, a falsa idéia de que a medicina é um curso de alta complexidade e por isso só ingressa nele pessoas muito inteligentes, o que não é verdade. Isso deveria se chamar “oligarquia da medicina,”. Conheço pessoas altamente inteligentes e que não são médicos, muito embora haja médicos inteligentes, assim também como conheço médicos medíocres escondidos atrás de avental branco que não merecem o título que possuem.



Muitos médicos são profissionais que se sentem acima do bem e do mal, (como se também não morressem, mas morrem) são arrogantes e mal educados. Raríssimos cumprem horários, seja em seus consultórios particulares, seja nos atendimentos públicos. Comportam-se como se fossem os mais ocupados de todos os profissionais, estão sempre apressados, chegam e saem muitas vezes pelas portas do fundo do estabelecimento em que trabalham, como se fossem fantasmas, ninguém ver quando chegam nem quando saem. Pra eles, o paciente deve ter horário obrigatório a cumpri, eles, põem, chegam na hora que bem entendem, mesmo que a consulta seja de hora marcada e com antecedência muitas vezes de meses. Não são raras as vezes que não vão ao trabalho e poucos têm a preocupação em avisar antecipadamente. Se isso ocorrer na rede pública, começa tudo do zero. Haja desrespeito a dignidade humana!



Assim como nas demais profissões, eles também cometem erros gravíssimos. Na medicina também há os bons e os maus profissionais, cometem muitas vezes erros grosseiros, por pura negligência. Há ocasiões em que amputam equivocadamente membros ou parte do corpo de paciente ou mesmo tira-lhes a vida. Sabem quem os julgam? Os próprios médicos. A punição na forma da lei como se sabe, é raro. Estamos nos referindo aqui àqueles casos que se tornam públicos. Se todos os casos de “erros médicos” fossem noticiados, causar-nos-ia arrepios.



Quando vamos a um consultório médico, esperamos que ele (médico) ao menos ouça nossos relatos a respeito dos nossos problemas, mas nem sempre isso acontece, no máximo procura nosso nome e o que sentimos e em fração de segundo está pronto nosso receituário em letras que se assemelham a de semi-alfabetizados, pouco compreensiva, precisando de tradutor especializado.

Houve um tempo em que ter um plano de saúde privado era sinônimo de status, de pronto e bom atendimento, hoje nem tanto assim. É comum estarmos pagando a duras penas um plano de saúde há anos e quando mais necessitamos dele, ele faliu, fechou, desapareceu, escafedeu-se. Você já viu um empresário desse ramo preso? Esses mercadores da saúde fundam empresas nesse ramo com o intuito de se dar bem, quando isso ocorre decretam falência e que se dane o resto.



Torna-se necessário que o Governo Federal crie o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) da Saúde. Neste programa algumas medidas deveriam está contidas visando melhoria no atendimento a população, como por exemplo:

-Toda cidade que tiver uma população acima de cem mil habitantes deverá ter uma faculdade de medicina, aumentando a oferta e conseqüentemente diminuindo a demanda por médicos;

- Cinqüenta por cento das vagas desses cursos deverão ser preenchidos por estudantes oriundos da rede pública;

- A faculdade seria inteiramente gratuita, porém, o profissional assinaria um termo de compromisso no qual se obrigaria a destinar um dia por semana de seu trabalho ao atendimento gratuito, independente dele trabalhar ou não no serviço público, uma vez que neste caso ele é renumerado para isso. O governo se responsabilizaria em oferecer a infra-estrutura necessária para esse atendimento (sala para consultas, hospitais, etc.).

- A cada três anos esses cursos deveriam passar por um processo avaliativo de qualidade.

- O receituário deveria ser obrigatoriamente em letra legível de tal forma que qualquer pessoa alfabetizada seja capaz de lê e entender.

- Aumentado do numero de hospitais e de consultórios;

- O barateamento de medicamento e até mesmo a gratuidade para camadas menos favorecidas da sociedade para certos tipos de doenças crônicas.

Essas seriam algumas das medidas a serem tomadas no sentido de melhoria do atendimento da população.

A exigência de vender antibiótico somente com a apresentação de uma receita médica é um grande contra-senso, uma afronta a camadas mais carentes, afinal, não há dinheiro se quer pra comprar alimentos. Essa medida é aplicável pra outros países, onde vive-se com dignidade, não é o caso de grande parte de nosso população, infelizmente. Se os governos garantissem acesso médico a quem necessitasse, aí sim poderia exigir que não só os antibióticos assim como todo e qualquer medicamento só deveriam ser vendidos se houvesse uma receita médica. Sem isso, porém, empodera-se uma classe, em detrimento de outra. “Isso é Belém, isso é Pará, isso é Brasiiiiiiiiiiiiiiil”

                *O autor é Professor de Sociologia do Sistema de Organização Modular de Ensino

                 (SOME) da SEDUC/PA. e colaborador desta revista eletrônica.

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