Entrevistas de um percurso: Amazônia, paisagem, dor e poesia
Aqui,
iremos percorrer por alguns caminhos que foram importantes às personagens de
nossa cultura e que nos deixaram legados valiosos para tornar nossas identidades,
ainda mais amazônica, e encher-nos de orgulho por fazer parte deste território.
Segundo
Halbwachs 2006 p.31“Para confirmar ou recordar uma lembrança, não são
necessários testemunhos no sentido literal da palavra, ou seja, indivíduos
presentes sob uma forma material e sensível”. Essa memória aguçada sempre em
lembrar lugares, pessoas e objetos, mexendo com nossa sensibilidade identitária
cotidianamente está bem definida em Halbwachs (2006 p. 170):
Assim, não há memória que aconteça em um
contexto espacial. Ora, o espaço é uma realidade que dura: nossas impressões se
sucedem umas as outras, nada permanece em nosso espírito e não compreenderíamos
que seja possível retomar o passado se ele não tivesse conservado no ambiente
material que nos circunda. É ao espaço, ao nosso espaço – o espaço que
ocupamos, por onde passamos muitas vezes, a que sempre temos acesso e que, de
qualquer maneira, nossa imaginação ou nosso pensamento a cada instante é capaz
de reconstruir.
Segundo Bosi (1997:
p.81) o momento de desempenhar a alta função da lembrança, não porque a
sensação se enfraqueceu, mas porque o interesse se dobra a quitessência do
vivido. Cresce a nitidez e o número de imagens de outrora, e esta faculdade de
relembrar exige um espírito desfeito, a capacidade de não confundir a vida
atual com a que passou, de reconhecer as lembranças e opô-las as imagens de
agora.
Não há evocação sem
uma inteligência do presente, um homem não sabe o que ele é se não for capaz de
sair das determinações atuais. Aturada reflexão pode preceder e acompanhar a
evocação. Uma lembrança é diamante bruto que precisa ser lapidado pelo
espírito. Sem o trabalho da reflexão a da localização, seria uma imagem
fugidia. O sentimento também precisa acompanhá-la para que ela não seja uma
repetição do estado antigo, mas uma reaparição se existe uma memória voltada
para ação, feita de hábitos, e uma outra que simplesmente revive o passado, parece se, esta a dos velhos, já
libertos das atividades profissionais e familiares. Se tais atividades nos
pressionam, nos fecham o acesso para evocação, inibindo as imagens de outro
tempo, a recordação nos parecerá algo semelhante ao sonho, ao devaneio, tanto
contraste com nossa vida ativa. Esta repele a vida contemplativa.
Nesse estado de
espírito que autores nos mostram sua fascinação pela Amazônia e principalmente
por Belém deixando sempre extravasar sua contentação por sua terra natal.
Existem vários momentos que tornamos público fantásticas alucinações pelas coisas
da Amazônia sejam por ruas, seja por crenças, seja por frutas, seja por
essências do Pará ou por pessoas. E é nessa abordagem que visualizemos tais
percursos amazônicos.
PAISAGEM
Primeiramente, tomo como objeto, algumas paisagens
que ficaram guardadas na memória das pessoas e que hoje permanecem intactas
mesmo que, esse espaço tenha mudado ou desaparecido. Recorro aqui à definição
de Chantal & Raison, p. 138:
Paisagem, palavra de uso
quotidiano, que cada pessoa utiliza a seu modo; o que não impediu de se tornar
um vocábulo à moda. Paisagem, uma destas noções utilizadas por um número sempre
crescente de disciplinas, que muitas vezes ainda se ignoram. Paisagem, enfim,
um dos temas clássicos da investigação geográfica. Conforme o interesse do que
é objeto ou uma maneira como se encara a própria noção de paisagem difere. Se
um geógrafo, um historiador, um arquiteto se debruçarem sobre a mesma paisagem,
o resultado de seus trabalhos e a maneira de conduzi-los serão diferentes,
segundo o ângulo de visão de cada um dos que a examinam.
Segundo Eduard Glissant 2005 p. 14 “nesses tipos de
espaços, o olho não se familiariza com as astúcias e finezas perspectiva; o
olhar abarca com um só impulso a platitude vertical e o acúmulo rugoso do
real.”
Ver-o-peso |
Mangal das garças |
A visualidade corresponde registro um
dado físico e referencial; a visibilidade, ao contrário, é propriamente,
semiótica, partindo de uma representação visual para gerar um processo
perceptivo complexo claramente marcado como experiência geradora de um
conhecimento contínuo, individual e social (Jameson, 1994). Na visibilidade o
olhar e o visual não se subordinam ou conectam-se um ao outro, como ocorre com
a visualidade, ao contrário, ambos se distanciam um do outro para poder ver
mais. Estratégico e indagativo o olhar da visibilidade esquadrinha o visual
para inseri-lo, comparativamente, na pluralidade da experiência de outros
olhares individuais e coletivos, subjetivos e sociais, situados no tempo e no
espaço. (Ferrara, 2002, p. 74)
Pça Batista Campos |
Vista parcial de Belém |
A recuperação do significado em nossas
paisagens comuns nos diz muito sobre nós mesmos. Uma geografia efetivamente
humana crítica e relevante, que pode contribuir para o próprio núcleo de uma
educação humanista: melhor conhecimento e compreensão de nós mesmos, dos outros
e do mundo que compartilhamos. (Cosgrove, 1999, p. 121).
Forte do Castelo |
Rio Guamá |
As variadas formas de
recordar, nos impulsionam e nos fazem reviver fatos de uma memória coletiva
focada em determinada época, segundo Halbwachs (2006, p. 29):
não basta que eu tenha assistido ou
participado de uma cena em que havia outros expectadores ou atores para que
mais tarde, quando estes a evocarem à minha frente, quando reconstituírem cada
pedaço de sua imagem se transforme em lembrança.
A lembrança, até de pequenos detalhes ou lidos ou
vividos, nos faz reviver de qualquer lugar. Atentando Para fatos que
aconteceram, basta apertar a tecla da memória e, o que nos fez bem ou mal vem
ao nosso pensamento. Para Halbwachs 2006 p.29 “se o que vemos hoje toma lugar no
quadro de referências de nossas lembranças, inversamente essas lembranças se
adaptam ao conjunto de nossas percepções de presente”.
1964 relatos subversivos os estudantes e o
golpe no Pará: Paes Loureiro, Ruy Barata, José Seráfico, Ronaldo Barata, Isidoro
Alves, Pedro Galvão, Roberto Cortez, André Nunes. Ao
privilegiar a análise dos excluídos, dos marginalizados e das minorias, a
história oral ressaltou a importância de memórias subterrâneas que, como parte
integrante das culturas minoritárias e dominadas, se opõem à “Memória Oficial”,
no caso a memória nacional. (...) Por outro lado, essas memórias subterrâneas
que prosseguem seu trabalho de subversão no silêncio e de maneira quase
imperceptível afloram em momentos de crise em sobressaltos bruscos e exacerbados.Para Michael Pollak 1992 “A memória entra em
disputa. Os objetos de pesquisa são escolhidos de
preferência onde existe conflito e competição entre memórias concorrentes.”
Tomaremos aqui, alguns trechos do livro André Nunes, Relatos
subversivos: os estudantes e o golpe militar no Pará que
nos mostrará a cidade de Belém servindo como espaço de sofrimento:
a camionete arrancou,
levando-nos num interminável desfile pela cidade, escoltados por viaturas do
Exército, até o quartel-general da Oitava Região Militar, na Praça da Bandeira,
seguindo um curioso itinerário que incluiu bairros tão fora de mão como São
Braz, Marco, Pedreira,
Telégrafo e Umarizal. Éramos o grande troféu do grande feito das forças armadas do Pará no golpe militar
de 1964. (p. 18).
Os soldados entraram quebrando tudo. No
comando o coronel José Lopes de oliveira já entrou dando um tapa no rosto de
Jose Seráfico de Carvalho, meu colega na Faculdade de Direito. (p. 19).
Vi o medo no ar. E vi, por
fim, o oficial, talvez um capitão, que subcomandava a invasão, na porta da sala
onde se encontravam os estudantes encurralados. (p. 20).
“Comunista safado!” Ouvi perplexo
aquele insulto, que me feriu as enfibraturas de rapaz. (...) como destoava do
senhor gentil, ponderado e de voz mansa, com quem duas ou três vezes, conversei
sobre livros nos corredores da Livraria Jinkings, na rua dos Tamoios. (pp.
24-5)
Fui jogado na masmorra, e a
porta se fechou atrás de mim com um clanc. Era a porta da cela da Quinta
Companhia com um postigo no alto e mais de duzentos anos no costado de acapu. A
mesma primeira porta à esquerda de quem entra na Casa das Onze Janelas, só que
hoje é um elegante vidro fumê, e por isso ela se ingressa no Boteco das Onze.
(p. 26)
POESIA
Outra forma de tornar presente na memória e
mexer com nossa identidade utilizando a imaginação de maneira apropriada,
passagem de uma vida saudosa e lembrança que nos trazem recordações de relatos
que nos envolveram ou envolveram outros, são os poemas marcantes que temos
sobre a região, e aqui ganhará o enfoque de Iser e o seu leitor implícito.
Para Wolfgang Iser:
Os estudos focados nos modos como os textos
tem sido lidos e assimilados nos vários contextos históricos, com o objetivo de
reconstruir as condições históricas responsáveis pelas reações provocadas pela
literatura; os estudos voltados para as reações e suscitadas nos leitores pelo
efeito estético, entendido como interação que ocorre entre o texto e o leitor
(1999,p.20).
A teoria iseriana do efeito estético, mesmo
estando fundamentada no texto, considera que tanto o texto como o leitor tem um
repertório de conhecimento e normas sociais, estéticas e culturais que fazem
uma interação no instante da leitura. Essa interação, segundo Iser, é
prefigurada por um leitor implícito, este conceito permite a projeção do
sujeito no ato da leitura. O texto a seguir faz uma interação com o leitor e
mesmo quem desconhece os termos citados na poesia criará em seu pensamento
formas de interagir com ela:
AMAZÔNIA
Sim eu tenho a cara do
saci,o sabor do tucumã
Tenho as asas do curió,e namoro cunhatã
Tenho o cheiro do patchouli e o gosto do taperebá
Eu sou açaí e cobra grande
Tenho as asas do curió,e namoro cunhatã
Tenho o cheiro do patchouli e o gosto do taperebá
Eu sou açaí e cobra grande
O curupira sim saiu de
mim, saiu de mim, saiu de mim...
Sei cantar o
"tár" do carimbó, do siriá e do lundú
O caboclo lá de Cametá e o índio do Xingu
Tenho a força do muiraquitã
O caboclo lá de Cametá e o índio do Xingu
Tenho a força do muiraquitã
Sou pipira das manhãs
Sou o boto, igarapé
Sou rio Negro e Tocantins
Sou o boto, igarapé
Sou rio Negro e Tocantins
Samaúma da floresta,
peixe-boi e jabuti
Mururé filho da selva
A boiúna está em mim
Mururé filho da selva
A boiúna está em mim
Sou curumim, sou Guajará
ou Valdemar, o Marajó, cunhã...
A pororoca sim nasceu em mim,nasceu em mim, nasceu em mim...
A pororoca sim nasceu em mim,nasceu em mim, nasceu em mim...
Se eu tenho a cara do
Pará, o calor do tarubá
Um uirapuru que sonha
Sou muito mais...
Eu sou, Amazônia!
Um uirapuru que sonha
Sou muito mais...
Eu sou, Amazônia!
Nilson Chaves
Assim, na poesia acima, recorremos ao que foi
estipulado por Lopes e Bastos 2010 p.205 afirmando de maneira categórica as
especificidades constituídas do espaço, do tempo, do modo de vida do homem
amazônico e a identidade cultural amazônica que assim é:
Representada pela relação do homem com a
natureza monumental e mítica, transfigurada pela imaginação criadora do
caboclo, particularmente; construída historicamente pela hibridez, pela
mistura, de elementos imemorial cultura indígena, pelas boas e maus heranças
dos colonizadores europeus (principalmente os portugueses), pelos legados dos
negros e posteriormente pelas contribuições da cultura nordestina, portanto,
tem uma essencialidade histórica: pelo longo isolamento que possibilitou essa
composição original; uma representatividade na cultura cabocla, o resultado
dessa mistura, um tipo humano também original e idealizado; marcada
fundamentalmente pelo espaço de referência dos rios e comunidades ribeirinhas;
e se define em oposição a modernidade e
a modernização capitalista induzida pelo Estado autoritário.
Desta maneira, as perspectivas de um texto
visam certamente a um ponto comum de referências entre texto e leitor que
vislumbram um caráter instrutivo a um ponto comum de referências, pois isso se
faz dado ao processo imaginativo. A relação obtida entre o texto e o leitor
sempre se fazem num processo de leitura e suas informações sobre os efeitos
provocados nele, cria-se, portanto, uma relação desenvolvida constantemente
pelo processo de realizações. Com isso Iser cria seu leitor implícito que é o
espaço que se dá entre texto e leitor. Por isso, o cumprimento do leitor implícito se dá a partir de atos da imaginação,
os quais conferem caráter transcendental à obra literária, por meio das
prefigurações do leitor implícito, o leitor real dá coerência ao universo de
representações textuais.
Segundo Bosi “A
lembrança é a sobrevivência do passado. O passado conservando-se no espírito de
cada ser humano na forma de imagens-lembrança.” Esta lembrança é marcada no
poema “Flor do Grão-Pará” que nos remete à memória a beleza natural que
presenciamos e os costumes que criamos nesta saudosa cidade das Mangueiras:
Rosa flor vem
plantar mangueira
E o cheira-cheira do tacacá
Meu amor ata a baladeira
E balança a beira do rio mar
Belém,
Belém acordou a feira
Que é bem na beira do Guajará
Belém, Belém, menina morena
Vem ver-o-peso do meu cantar
Belém, Belém és minha bandeira
És a flor que cheira do Grão Pará
Belém,
Belém do Paranatinga
Do bar do parque do bafafá
Bentivi, sabiá, palmeira
Não dá baladeira
Deixa voar
Belém,
Belém acordou a feira
Que é bem na beira do Guajará
Belém, Belém, menina morena
Vem ver-o-peso do meu cantar
Belém, Belém és minha bandeira
És a flor que cheira do Grão Pará
Chico Sena
Segundo Eduard Glissant 2005 p.14
essa paisagem americana que reencontramos em
uma pequena ilha ou no continente me parece, sempre e por toda parte irrué. E é
disso, provavelmente, que vem o sentimento que sempre tive de uma espécie de
unidade-diversidade, por um lado, dos países do caribe, e por outro lado, do
conjunto dos países do continente americano.
Para Halbwachs (2006, p.31):
Outras pessoas tiveram essas lembranças em
comum comigo. Mais do que isso, elas me ajudam a recordá-las e, adoto seu ponto
de vista, entro em seu grupo, do qual continuo fazer parte, pois experimento
ainda sua influência e encontro em mim muitas ideias e maneiras de pensar a que
não me teria elevado sozinho, pelas as quais permaneço em contato com
elas.
O leitor implícito não tem existência real,
mas é antes uma estrutura do texto. Para Iser (1996, p.73) "uma estrutura
que projeta a presença do receptor.”
Dessa forma, o leitor implícito não é mera
abstração. Esse tipo de leitor traz condicionada uma atividade constitutiva da
estrutura do texto, que se torna real através de ações que estimulam o leitor
implícito. A realização do papel do leitor implícito acontece a partir de atos
imaginativos nos quais lhe são dados caráter transcendental à obra literária.
Segundo Iser apud Compagnom(2001 p.149):
A obra literária tem dois pólos, (...) o
artístico e o estético: o pólo artístico é o texto do autor e o pólo estético é
a realização efetuada pelo leitor. Considerando essa polaridade, é claro que a
própria obra não pode ser idêntica ao texto nem à sua concretização, mas
deve-se inevitalvemente ser de caráter visual, pois ela não pode reduzir-se nem
a realidade do texto nem a subjetividade do leitor, e é dessa virtualidade que
ela deriva seu dinamismo. Como o leitor passa por diversos pontos de vista
oferecidos pelo texto e relacionam suas diferentes visões e esquemas, ele põe a
obra em movimento, e se põe ele próprio igualmente em movimento.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
É importante ter consciência que a leitura
extraída de textos e imagens, literários ou não, para cada leitor tem uma gota
de significado, pois, na medida em que sua comunicabilidade interfere o leitor
sua identidade também poderá ser interferida, pois, será possível interpretamos
da maneiras diferentes as várias leituras que faremos a partir da perspectiva
do presente, pois segundo Compagnom (2001, p.147), "os estudos recentes da
recepção interessam-se pela maneira como uma obra afeta o leitor, um leitor ao
mesmo tempo passivo e ativo, pois a paixão do livro é também a ação de
lê-lo".
É importante afirmar que Wolfgang Iser para
chegar ao leitor implícito verificou várias formas de se formar leitor,
inclusive o leitor ideal, pois, ele vê a impossibilidade desse leitor o leitor
ideal deveria ter o mesmo código que o autor. Mas como o autor transcodifica
normalmente os códigos dominantes nos seus textos, o leitor ideal deveria ter
as mesmas intenções que se manifestam nesse processo. Supõem-se que isso é possível, então a
comunicação se revela como supérflua, pois ela comunica algo que resulta da
falta de correspondência entre os códigos de emissor e receptor. (ISER: 1994)
Na afirmação de Iser o leitor ideal deveria
ser capaz de realizar na leitura, o potencial de sentido do texto ficcional e
que a história da recepção dos textos mostra atualizações de maneira diferentes
da obra. Além desta definição o teórico ainda cita outros autores e suas
definições como é o caso de Riffaterre com seu arquileitor que serve a
apreensão empírica do potencial de efeitos do texto; Fish tem no seu leitor
"informado" efeitos do texto no leitor e Wolf com o leitor
"intencionado" que é o leitor que marca posições no texto, escolhe o
personagem que o satisfaz.
Para Iser:
As perspectivas do texto visam certamente a um
ponto de referência e assume assim o caráter de instruções; o ponto comum de
referências, no entanto, não é dado enquanto tal e deve ser por isso imaginado.
É nesse ponto que o papel do leitor delineado na estrutura do texto, ganha seu
caráter efetivo. Esse papel ativa atos da imaginação que de certa maneira
despertam a diversidade referencial das perspectivas da representação e reúnem
no horizonte de sentido. (p.65)
Parece que essa maneira de concebimento do
leitor implícito é de fundamental importância no desenvolvimento da leitura
estética, pois, aliada aos estímulos produzidos no imaginário do leitor, o
incita a assumir um papel ativo na construção da ficção. O cumprimento do papel
do leitor implícito se dá a partir de atos de imaginação, os quais conferem
caráter transcendental à obra literária.
Por meio das prefigurações do leitor
implícito, o leitor real da coerência ao universo de representações
textuais. Ao construir um horizonte de
sentido para a obra, o leitor não apenas organiza as várias perspectivas do
texto, mas estabelece um ponto de vista a partir do qual compreende a sua
situação no mundo. O leitor real acaba por encontrar nesse modo transcendental
uma referência que lhe permite orientar a sua experiência de mundo. O sentido
do texto é assim, apenas imaginável na experiência do leitor real, que busca
correspondência entre seu ponto de vista.
A recepção é mais que um processo
semântico, ela é um processo de experimentação, de uma configuração do
imaginário projetado no texto. Em outras palavras: o leitor é o sujeito
desejado na obra e pela obra.
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* O autor é músico, professor, mestre e colaborador do Blog.
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