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segunda-feira, 14 de abril de 2025

Tarde Amazônica

 



Aconteceu quinta-feira (11/04/ 2025), na Escola Lazáro Conceição, Polo SOME/Traquateua, o encerramento do primeiro módulo. A dinâmica de encerramento deu-se com a atividade cultural do componente curricular projetos de vida, de responsabilidade da professora Adriana e que contou com participação de todos os demais professores: Valdivino, Elson, Valdecir,  Rosiane e Adriana.



O evento denominado “Tarde Amazônica” teve como objetivo fazer um resgate da cultura dos povos originários como os  munduruku, Araweté, Karipuna, tembé, kaipo, juruna e Tupinambá. O evento também foi uma aula aberta a comunidade onde se fez um resgate da ancestralidade, desses povos originários, cantado na música  Amazõnia Tupinambá, da Escola de Samba palha -não há 2025  que foi a campeã do carnaval bujaruense/2025 . Os Tupinambás são uma comunidade indígena do tronco linguístico Tupi-Guarani que habitava extensas áreas do litoral brasileiro, se ramificando aqui para a Amazônia.





Os tupinambás possuem uma rica cultura, destacando-se pela música,  comidas e danças.  Baseavam-se na agricultura de subsistência, pesca e caça, evidenciando uma profunda conexão com a natureza, que foi mostrado com brilhantismo pelos alunos do Some da Escola polo Lázaro Conceição.





Por algumas horas os alunos da referida escola deixaram de lado seus terçados, suas enxadas, suas peconhas, seus tipitis e tornaram-se os professores, que através de suas apresentações mostram a influência dos deuses Tupã, Xamã, Jaci e Caupé em nossa raízes, que como diz a letra da música são deuses “ que protege, que cuida, que vive, que abraça e cultura” e assim “todos brilharam na Amazônia Tupinambá”. 







Foi encenado também, pelos alunos, uma das mais marcantes lendas do folclore amazônico que é  a Lenda do Boto cor-de-rosa, ou simplesmente a Lenda do Boto, é uma lenda de origem indígena que faz parte do folclore brasileiro. Ela surge na região amazônica, no Norte do País. segundo a lenda, o boto é um rapaz elegante que costuma aparecer nas comemorações dos santos populares (Santo Antônio, São João e São Pedro), as chamadas Festas Juninas.





Ele vai à festa vestido de branco e usando um chapéu, a fim de esconder o buraquinho que o boto tem no alto da cabeça para respirar.










Lá, ele conquista uma moça, que leva para o fundo do mar, a engravida e nunca mais   volta no lugar. A lenda do Boto é utilizada muitas vezes para justificar uma gravidez fora do casamento, sendo costume dizer que “a criança é filho do boto” quando é filha de pai desconhecido.






Além de outras apresentações e explicações sobre as comidas típicas, houve ainda apresentação da comissão de frente da escola de samba Palha-não-2025, e da presença de um do autores da música Amazônia Tubinambá, o pesquisador Natan Carvalho 





Esta culminância maravilhosa só foi possível com o engajamento de alunos e professores, direção e vice- Direção da Escola Lazaro Conceição (Dir. Marlinho e Vice-Diretora Leidiane, corpo técnico e de apoio da escola).A culminância foi um sucesso, nota dez.







Prof. Valdivino Cunha da Silva















quinta-feira, 5 de setembro de 2024

O Sistema de Organização Modular de Ensino – SOME no município de Bujaru

 



CANÇÃO PARA BUJARU

 

Ó menina Índia!

Que todas as manhãs molha os pés

Às margens do rio

O rio que te banha

Que te batizou

E fez de vosmicê

Seu senhorio...

 

Ó menina Índia!

Dos verdes cabelos compridos

Cacheados de cipós

Olhos cor da noite, que, ao luar, reluzem

Como faróis a guardar tuas águas

Imaginárias águas de botos encantados

A entoar o canto do carimbó...

 

Ó menina Índia!

Tua pena escreveu a história

de teus antepassados

Das sesmarias

Da ordem Carmelita

Braço da Corte portuguesa que colonizou

A Amazônia minha...

 

Ó Bujaru! Que encantos! Que memórias!

Das ruinas da fazenda Bom Intento

Do engenho que traz  o sangue português

da colonização

Da igreja imponente no meio de ti

Da vista do rio que te guarda

E reverencia teu chão...

 

Ó que noites poéticas!

Que manhãs iluminadas!

Porque acorda o teu morador

Na friagem da manhã

Vai à feira da cidade

Há movimento na rua

Nas praças

No mercado

O jornaleiro passa apressado

Grita a notícia do dia

Eu sei... Eu sei...

A cidade acordou.

 

Carlos Prestes

Marudá,  05. 09.2024

 

          

No dia  15/04/2024 passado, o Sistema de Organização Modular de Ensino – SOME completou 44 anos nos rincões do Estado do Pará que tem uma longa história de existência e resistência. O surgimento desta política pública foi fruto de debates e longas discussões iniciadas na década de 70, tendo como eixo norteador a educação cubana entre outras. Durante este período, a Fundação Educacional do Pará – FEP, na época responsável pela gerência do ensino superior e ensino do 2º grau, era coordenada pelo então Superintendente Geral, professor Manoel Campbell Moutinho. Além desse reitor, foi feita uma comissão formada por técnicos e professores que gestaram e implementaram esta importante política pública da Amazônia paraense que tem contribuído, sobretudo, na construção da cidadania e formação da população rural, de assentamentos, de ramais, de estradas, ribeirinhas, quilombolas e indígenas paraenses. Diante da conjuntura, resolvemos rememorar alguns aspectos da trajetória do SOME, desde  sua origem até os dias atuais, principalmente, o SOME no município de Bujaru.

Para tratar de SOME, uma temática tão singular na história da educação no Pará é necessário rebuscarmos e atentarmos para a matéria  “Resgate da História e Memória do SOME”, publicada no Blog do Riba (Ribaprasempreblogspot.com), esta que está  ligada à luta dos estudantes concluintes do 1o grau, da Vila de Marituba, região metropolitana de Belém, que desejavam dar continuidade em seus estudos no 2o grau. 

O texto a seguir foi desenvolvido pelo Professor Ribamar Oliveira, Editor do Blog do Riba:

Por vários anos, a organização administrativa do ensino de Segundo Grau (atualmente Ensino Médio) no nosso Estado, ficou sob a responsabilidade da Fundação de Educação do Pará - FEP, hoje extinta, surgindo a Universidade Estadual do Pará - UEPA, em seu lugar. Na década de 70, em pleno período da Ditadura Militar, durante a gestão do governador Tenente Coronel Alacid da Silva Nunes, alunos da então Vila de Marituba, hoje município da região metropolitana de Belém, concluintes pertencentes a diversos interiores do curso de Primeiro Grau (Atualmente Ensino Fundamental Maior), desejando dar continuidade a seus estudos, mas não tendo condições de arcar com os custos dessa continuidade em Belém, reivindicaram junto à base política aliada do governador, que os atendessem com o curso de Segundo Grau sem ter que se deslocar para a capital. O governador, então, pediu à FEP que encontrasse uma maneira de atender à reivindicação das comunidades e, claro, aos interessados. A FEP, que na época tinha à frente de sua Direção o Professor Manuel Campbell Moutinho, criou equipes de técnicos, que se deslocaram até as comunidades para fazer as diagnoses das necessidades urgentes, para atender os alunos, e a alternativa encontrada pela equipe técnica foi através de blocos ou módulos de disciplinas da Grade Curricular do Segundo Grau.

Uma equipe de professores permanecia na localidade por um determinado período de dias letivos (hoje são 50 dias letivos), ministrando um Módulo de determinadas disciplinas. Finalizado um período, outra equipe se deslocava para a comunidade para ministrar mais um Módulo de disciplinas, até que todas as disciplinas da respectiva série fossem ministradas durante o ano. Surgia, assim, o Sistema de Organização Modular de Ensino – SOME.

A avaliação efetuada pela FEP concluiu pela viabilidade de se implantar o atendimento aos alunos das comunidades do interior do Estado com Ensino de Segundo Grau por Módulos de disciplinas, o que veio a ocorrer a partir da década 80 nas sedes dos municípios que ainda não tinham o ensino de 2o Grau implantado.

       Inicialmente, o SOME foi implantado em quatro municípios paraenses: Igarapé-Açu, Nova Timboteua, Igarapé-Miri e Curuçá. O Estado do Pará foi o pioneiro neste tipo de projeto no país e serviu de modelo para outros Estados, como o Amapá, Amazonas, e mais 14 depois, e alguns países como o México. sendo regularizado pela resolução nº 161 de 03 de novembro de 1982, do Conselho Estadual de Educação.  O SOME passa a ser administrado pela Secretaria de Estado de Educação (SEDUC). Nesse ano, as prefeituras dos municípios beneficiados com a implantação do sistema, participavam informalmente do funcionamento do “Ensino Modular”.

         A partir de 1986 foi elaborado um convênio padrão, que passou a ser firmado pelas prefeituras interessadas na implantação do SOME. De acordo com o documento, era de competência do município arcar com uma moradia digna para o professor. Esta devia atender condições adequadas de conforto, higiene e segurança para os servidores residirem durante o período de atividades na localidade, observando-se os seguintes parâmetros: a) ter serviços de água, energia e gás (onde tais serviços já sejam do serviço público geral); b) a moradia deve ser preferencialmente para professores do SOME/SEDUC; c) ter mobiliário básico (geladeira, fogão, mesas, cadeiras, camas com colchões); d) ter utensílios domésticos como louças, panelas, talheres, material de limpeza, etc. No dia 18 de abril de 1991, o Conselho Estadual de Educação - CEE aprovou as normas regimentares para a estrutura e o funcionamento do SOME.

          A criação do SOME enquanto projeto alternativo e, atualmente, uma política educacional pública, com atuação na educação no campo, merece algumas reflexões, uma delas é que ele vinha assegurar o atendimento de 2º grau (hoje ensino médio) para diversos municípios, adequando-se à realidade de cada um deles, mesmo com as carências estruturais que são peculiares aos municípios brasileiros, em especial, no chão da Amazônia paraense (deficiência nos sistemas de comunicações, de transporte, de saúde, educacional). Outro aspecto relevante dizia (e ainda diz) respeito a uma grande demanda de jovens interiorizados que precisavam avançar em seus estudos, e os municípios naquela época (como ainda hoje) não dispunham de uma infraestrutura mínima que atendesse a esse clamor e, assim, fez-se necessário o estabelecimento de parcerias entre os Governos Municipais e o Governo Estadual, cada um com papeis muito claros, nem sempre cumpridos.

           Em fins da década de 70, o antigo ensino médio funcionava somente em 18 dos 83 municípios, nas sedes dos municípios onde se encontrava a maior demanda de discentes. O SOME nasceu com o objetivo de possibilitar aos alunos do campo, a conclusão de seus estudos no ensino médio, bem como democratizar as oportunidades educacionais no campo, a fim de garantir a permanência dos alunos em seu lugar de origem e garantir um ensino de qualidade, com justiça social e inclusão educacional às diversas regiões paraenses.

           Em função do contexto geopolítico e outras particularidades o SOME funciona em forma de módulos, totalizando 04 módulos anuais, de forma que ele se equipara ao ensino regular em termos de carga horária. Os módulos são formados por blocos de disciplinas, com duração de 50 dias letivos. Ao final do ano letivo, que corresponde a 200 dias, o aluno conclui uma série, sempre obedecendo às exigências curriculares legais. As localidades atendidas são agrupadas em circuitos e, durante o ano letivo, os professores são divididos em equipes que se deslocam, em forma de rodízio, pelas localidades que integram o circuito.

           O SOME, hoje, atua em 98 municípios e aproximadamente 500 localidades no Estado, com cerca de 40 mil alunos e perto de 1200 professores (todos com licenciatura plena em suas respectivas disciplinas). O projeto que surgiu como alternativa, com certeza, ainda vai durar mais 44 anos, enquanto não aparecer outro projeto presencial, para atender a população do campo, das florestas e das águas.

           SOME é, sem dúvida, a maior política pública de inclusão social do Estado e já garantiu a conclusão do ensino fundamental e médio de mais de 1 milhão de estudantes. Professores, alunos e comunidade em geral têm consciência da grande contribuição e significativa universalização do ensino médio na educação no campo proporcionada pelo SOME. Há dez anos, a comunidade escolar deu um salto significativo, que foi a criação da Lei do SOME, publicada em 29 de abril de 2014, porém, não atendendo todas as demandas, principalmente, dos educadores que atuam nesta modalidade de ensino.

           Em que pese todos os problemas enfrentados, os embates que já tivemos no campo político nas tentativas de melhorá-lo cada vez mais, ele segue sua trajetória na busca por uma educação inclusiva e de qualidade. Viva o SOME, viva os guerreiros e guerreiras que fazem do SOME uma ferramenta indispensável no processo educacional do Estado do Pará.

O SOME em Bujaru ( 2003 – 2024)

           O texto tem como principal objetivo abordar aspectos importantes de um dos maiores projetos de inclusão social da Amazônia, que é o Sistema de Organização Modular de Ensino – SOME, partindo da premissa que é a atividade que inaugura em termos de produção de texto, sendo bibliográfica e utilização da metodologia da história oral, com entrevistas orais e escrita, em um primeiro momento escrito para apresentação em reunião pedagógica entre os professores do Módulo antes do início do I módulo, lotados na EEEFM “D. Mário Vilas Boas”, escola sede do município de Bujaru, no ano de 2018.

           A Avaliação Diagnóstica do Sistema de Organização Modular de Ensino – SOME no Estado do Pará, que é um relatório preliminar da pesquisa realizada pela Fundação Instituto para o Desenvolvimento da Amazônia – FIDESA deixa bem nítida a importância da pesquisa e o objetivo que foi “avaliar a estrutura e funcionamento do SOME e propor diretrizes para a melhoria qualitativa somente no que diz respeito ao ensino médio”. Para a pesquisa, o SOME “visa garantir a oferta de ensino fundamental e médio aos alunos que moram em regiões em que não haja a oferta desses níveis no ensino regularmente pelo poder público” ( FIDESA -2003).

           Dados levantados pela pesquisa junto ao Departamento do SOME, no ano de 2002, apontam que o projeto estava presente em 87 municípios da Amazônia paraense, distribuídos geograficamente em 47 sedes, 144 distritos e 191 localidades, sendo atendidos 22.338 alunos, com 591 professores. Importante levantarmos o questionamento quanto ao crescimento do SOME e a interiorização do ensino médio nas zonas rurais dos municípios do Estado do Pará.

           O SOME que foi implantado pelo Governo do Estado do Pará, no ano de 1980, “Como proposta alternativa de atendimento de expansão do Ensino Médio presencial no território paraense, em resposta ao número elevado de alunos egressos do ensino fundamental sem atendimento escolar devido à carência de infraestrutura dos municípios, que impossibilitava a oferta do ensino médio” (ibidem).

           Para a SEDUC, a efetivação do SOME que seria implantado, teria que possuir algumas características, no ano de 2002, entre elas: Distância de centros urbanos e onde esta distância determine a impossibilidade de deslocamento de alunos para locais em que haja oferta de Ensino Médio; Demanda real e potencial reduzida, desaconselhando a construção de escolas de nível médio destinadas ao funcionamento de cursos regulares de ensino médio; clientela composta de pessoas de faixas de idade diversas e acima da faixa adequada para o Ensino Médio e grande carência de recursos humanos qualificados para a docência no Ensino Médio.

          Com isso, a partir de 2003, tendo como uma das principais finalidades a expansão de oportunidades na área educacional, especificamente, no ensino médio, a Secretaria de Educação do Estado do Pará – SEDUC, passou a oferecer o Sistema de Organização Modular de Ensino – SOME, nas localidades do município de Bujaru, para os estudantes filhos de trabalhadores rurais, ramais, estradas, ribeirinhos e quilombolas. Ressalto que, os devidos critérios utilizados pela SEDUC como ferramenta de seleção para atendimento aos municípios demonstravam a precariedade da oferta de ensino médio regular no Estado do Pará, em virtude de vários fatores, entre eles, a dimensão territorial de nosso Estado, que superava muitos países. Não podemos esquecer que, nesse momento, a Amazônia paraense recebe grande fluxo de pessoas, vindo de outros Estados, principalmente os nordestinos, provocando a explosão demográfica; além dos níveis de desenvolvimento socioeconômicos das regiões do Pará serem muito diferentes umas das outras. Portanto, grandes impactos contribuíram com a desestruturação e avanço do ensino médio regular na zona rural da Amazônia paraense.

           O município de Bujaru vem de origens indígenas, quilombolas e ribeirinhas, sendo que, os primeiros habitantes da região, faziam os deslocamentos entre os rios Moju, Capim e Acará, com grande fluxo migratório, que vai provocar a intensificação da cultura da cana de açúcar no século XIX, com a criação de vários engenhos pela região. No rio Bujaru tinham os engenhos Itaporanga, São Luís, São Joaquim, Nazaré e Santa Ana e Cateanduba. Logo, se deduz que tinha muitos escravos, somados com os sitiantes que trabalhavam na produção dos engenhos.  Com o tempo e com o processo de transição e consolidação da República, muitos dos engenhos foram abandonados nessa região, alguns antigos escravos receberam como recompensa, outros foram vendidos, mas o que podemos notar neste período é que foram se tornando agricultores, principalmente com a produção de milho, arroz, feijão, onde muitos continuaram caçando nas matas em grandes quantidades de caça do mato e pescando nos igarapés e rios, formando famílias e ocupando as antigas fazendas. A fundação de Bujaru foi no dia 30 de dezembro de 1943.

           Atualmente o município de Bujaru, limita com os municípios de Santa Izabel do Pará, Benevides, Acará, Concórdia do Pará, São Domingos do Capim e Inhagapi, com a distância da capital de 72 Km e, de acordo com os dados estatísticos do Censo Demográfico do ano de 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o estado do Pará possui uma área de extensão territorial de 1.247.950,003 km². A população do Estado do Pará é de 8.116.132 e, dentro deste espaço, se encontra localizado o município de Bujaru, com um território de 994.691 km², que abriga uma população total de 24.383, sendo que os que residem na região da zona rural do município seriam 9.385, correspondendo a 53,3% de homens e 8.211 habitantes do sexo feminino, correspondendo a 46,7%, dentre os quais podemos destacar os povos das águas e das florestas, como: os quilombolas, os extrativistas, os agricultores familiares, os ribeirinhos, os pescadores, dentre outros. O município possui 20.397 eleitores, correspondendo 72% da população total, sendo 10.003 do sexo feminino, correspondendo a 49,04 eleitoras e 10.384 do sexo masculino, correspondendo a 50.91 de eleitores (2018), localizado no nordeste do Estado do Pará. O município tem três candidatos à Prefeitura e 94 candidatos a vereador para disputar eleições de 2024, segundo o TSE, sendo a eleição no dia 6 de outubro do corrente ano.

           Com documentos cedidos para este artigo e, sendo diretora, naquele momento, da Escola Sede “D. Mário de Vilas Boas”, a Professora Iracema Heitor da Silva observa que em 2001 houve a solicitação, conforme Ofício nº 069/2001, de 17 de maio de 2001, com assinaturas do Prefeito Miguel Bernardo da Costa, da Secretária Municipal de Educação,  Rosângela Maria Vasconcelos Gomes e dela (diretora), para implantação do Sistema de Organização Modular de Ensino – SOME, que passaria a atender o ensino médio no município. E a exposição de motivos da implantação enviada para a Secretaria Estadual de Educação, aos cuidados da responsável pelo projeto, Professora Nádia Eliane Cortez Brasil, do Departamento do SOME, diz o seguinte, no primeiro parágrafo: ”A implantação do Projeto SOME, em nível de ensino médio, faz-se necessário pelo fato de que nosso município conta hoje com um quadro de 7.310 alunos da rede municipal de ensino, sendo que, 5.160 destes alunos, se encontram na Zona Rural. A esse número soma-se, ainda, 79 alunos que pertencem ao quadro do Estado. São alunos que cursam o ensino médio e precisam deslocar-se todos os dias de suas casas, alguns saem 03h00min horas (Manhã) para apanhar o transporte escolar e chegar até a sede do município”. A exposição frisa, também, que, em virtude do crescimento de alunos, o transporte escolar já não contempla confortavelmente toda clientela atendida, causando a superlotação dos ônibus e fazendo com que os alunos corram riscos diante de tal situação.

           A Professora Iracema Heitor, enfatiza na entrevista que, com a implantação do SOME em Bujaru, em 2003, ficou o gerenciamento, em um primeiro momento, à Prefeitura Municipal, que só após o desmantelamento do SOME pela então Secretaria estadual de Educação, Rosa Cunha, quando retirou 60% da gratificação de deslocamento, passagens de aviões, material didático, Convênio com municípios, entre outros, é que o SOME passou a ser gerenciado pela Escola Sede, ou seja, só a partir do segundo semestre. Neste momento, saíram do SOME 192 Professores, por não concordarem com a política autoritária e nefasta para a educação do Estado, inclusive, minha pessoa. E, continua, o Ofício foi solicitando a implantação das localidades de Ponta de Terra (24 alunos), Km 29 (Com 29 alunos), São Raimundo (60 alunos), São Sebastião (29 alunos), São Lopes (32 alunos), Santana (15 alunos) e Santa Maria (34 alunos). Mesmo com a solicitação de sete localidades, com números suficientes de demanda, a SEDUC só liberou dois polos que foram os de São Raimundo e o da Curva. As outras localidades foram sendo implantadas gradativamente, menos a Vila Santana e Santa Maria, que, até o momento, não foram liberadas. Os alunos de Santana se deslocam para o Km 29, a fim de estudar. A informante ressalta, através de documentos, a solicitação para implantações do SOME no município e a importância da Casa dos Professores como base para muitos professores que se deslocavam de outros municípios ou da capital do Estado, Belém.

           Segundo a ex-coordenadora, Simone Soares Sampaio, o Sistema de Organização Modular de Ensino – SOME, em Bujaru, foi implantado em 2003, em dois polos, na Curva e São Raimundo, funcionando só com primeiro ano e, gradativamente, foram aumentando as turmas e, em 2005, completou as séries seguintes”. E Continua: “A partir de 2006 o número de polos aumentou, sendo implantado nas localidades de São Sebastião, São Lopes, Providência e Ponta de Terra, tendo seu início na localidade de Traquateua, em 2007, e no Km 20, que era chamado de Providência II, como se fosse a extensão do polo de Providência, já que o número de turmas era bastante pequeno”.

           Para o Professor Valdivino Cunha da Silva sua história tem uma relação prazerosa com o SOME e com o município de Bujaru, pois, concomitantemente, foi lá que iniciou sua carreira profissional no magistério, como professor de Sociologia. O referido professor iniciou suas atividades docentes na localidade de São Raimundo. Segundo ele, as medidas para melhorias da educação no município, caso tivesse poderes, injetaria um maior volume de recursos financeiros, sendo que esse aporte de recursos seria aplicado no sentido de melhorar o exercício da docência, garantir a universalidade e a qualidade da merenda escolar. Melhoraria também a infraestrutura, incluindo a Casa dos Professores, as escolas e o transporte escolar. Faria um grande seminário com todos os seguimentos envolvidos com a educação de Bujaru para levantar e hierarquizar as demandas. O informante ressalta que o deixa orgulhoso fazer parte dessa política pública inclusiva, e, feliz, quando vê, de vez em quando, alunos do SOME sendo aprovados nos vestibulares. Segundo o Professor, isso comprova a importância do SOME para as localidades interiorizadas deste Pará, e faz dele uma das políticas pública mais inclusiva; assim como quando se vê diante de ex-alunos do SOME que se tornaram professores, o que é sinal de que a semente vingou e deu frutos. (...) Quem ensina aprende ao ensinar, e quem aprende ensina ao aprender.

           Na localidade de Ponta de Terra O SOME foi extinto em 2013 em função do descompromisso da Direção da Escola D. Mário com a comunidade, já que desejava a  saída do SOME, prejudicando muitos alunos e alunas, uma vez que, com a implantação do regime regular, o quadro de docentes não estava completo e, sendo a maioria contratados, diferente dos educadores do SOME, que são professores concursados e efetivos, muitos possuindo especializações e mestrados. Um grande retrocesso e precariedade para a educação bujaruense, fazendo com que alguns alunos que tinham condições se deslocassem para Bujaru sede, o município de Santa Izabel e Belém.

           Na época da implantação, o quadro de professores do SOME era completo, sendo um dos pioneiros o Professor de Espanhol e Língua Portuguesa Railson Fernandes Elmescany e a Professora Nazaré Laurido, de Língua Portuguesa. Segundo o Professor Railson, nos polos que tinha, neste momento, era São Raimundo e Curva, e passaram dois professores que eram: Enock, de matemática e França de Geografia. E continua: neste período foram cortadas 60% de gratificação dos professores, o que fez com que os professores parassem de trabalhar nas duas localidades de funcionamento, sendo contratado para trabalhar no KM 29, Curva, com algumas turmas, sua primeira localidade de trabalho pelo SOME, com as mesmas dificuldades que ainda temos hoje, como as Casa para Professores. Nos dois primeiros anos que trabalhou na Curva, dormia numa maca, inclusive, algumas vezes, quando retornava à noite das aulas, geralmente, encontrava sangue no corredor. Provavelmente, D. Graça tinha feito algum curativo. Neste momento, era sujeito a aceitar essa situação, até porque era novo e precisava trabalhar. O informante ressalta que, em São Raimundo, a Diretora era Conceição Vera e, no Km 29, a Nilcelene. Railson, diz que, com a chegada do novo Prefeito Emanoel Muniz, solicita a ampliação a partir de 2005 e chegando novos professores, como Célia Machado, de Biologia; ele, Denis Heitor, de Matemática, João Wanzeller, de Matemática; Girvânia Mesquita, de Geografia. Na entrevista, realizada no dia 12 de maio de 2018, frisou um dado cômico de sua experiência no SOME nesses quinze anos, que aconteceu na localidade de São Raimundo, em 2003. Naquele momento, não tinha energia e trabalhava com a disciplina de Artes, sobre as atividades pedagógicas voltadas para lendas e mitos da região, e falava-se muito em Matin, Curupira e outras lendas. Quando foi numa certa noite, segundo o linguajar dos moradores, foi “amassado” pela Matinta Perera e Matin, já que não conseguia falar, não conseguia se mexer e assim aconteceram outras vezes. Finalizando sua conversa, informou que com a expansão, a partir de 2005, o SOME assume o fundamental em São Raimundo e Ponta de Terra, aumentando o número de alunos, assim como carga horária para os professores.

           Nesses 21 anos de implantação do SOME no município de Bujaru, podemos observador que esta modalidade de ensino deu uma grande contribuição e desenvolvimento para o município.

           Ressalto que, com a ocorrência anotada em 2005, a Secretaria Estadual de Educação do Estado do Pará – SEDUC, através da portaria 064/05, definiu a classificação dos municípios e localidades pelas categorias A, B e C, considerando o nível de dificuldade de acesso às localidades, nos termos estabelecidos pelo decreto nº 390/2003, 30%, 60% e 100%. Isso provoca desestruturação no quadro de professores na época, contribuindo com a descentralização do SOME, ficando sob responsabilidade das Unidades Regionais de Educação – URES e Escolas Sedes, tirando toda responsabilidade do Departamento do Sistema de Organização Modular de Ensino – SOME que ficava na sede da Secretaria Estadual de Educação – SEDUC, em Belém do Pará. Logo, as oligarquias municipais controlam a educação e, em especial, o SOME, sendo inclusive removidos professores com outros vínculos, que não era só do estado. Em 2003, foi o marco histórico pela descaracterização do SOME e da educação interiorizada na Amazônia paraense.

           Através de muitas reivindicações e lutas da categoria dos professores, em 29 de abril de 2014, por da Lei nº  7.886, o Sistema de Organização Modular de Ensino – SOME foi estabelecido como Política Pública Educacional do Estado do Pará, no âmbito da Secretaria de Estado de Educação.

           (...) A educação é política! Depois de descobrir que também é um político, o professor tem de se perguntar: “Que tipo de política estou fazendo em classe?” Ou seja: “Estou sendo um professor a favor de quem?”. Ao se perguntar a favor de quem está educando, o professor também deve perguntar contra quem está educando. São 44 anos de SOME no Estado Pará, desses, 21 anos no município de Bujaru. Viva os 44 anos do SOME!

Informantes: Iracema Heitor da Silva, Maria Eliete da Silva Mesquita, Railson Fernandes Elmescany, Simone Sampaio, Valdivino Cunha da Silva.

Bibliografia

Fundação Instituto Para o Desenvolvimento da Amazônia – FIDESA. Relatório Preliminar da Pesquisa: Avaliação Diagnóstica do Sistema de Organização Modular de Ensino – SOME no Estado do Pará, 2003.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. Paz e Terra. 2003.

FREIRE, Paulo & Shor, Ira. Medo e Ousadia. Paz e Terra. 2003.

OLIVEIRA, José Ribamar Lira e & outros (Org.). Contando a História e a Memória de Nova Providência. Nova Providência, Bujaru. 2018.

OLIVEIRA, José Ribamar Lira e & outros (Org). São Raimundo: Histórias e Memórias. São Raimundo, Bujaru. 2011.

_________________________________________ São Lopes: História e Memória. São Lopes, Bujaru. 2012.

_________________________________________ Ponta de Terra: História e Memória. Ponta de Terra, Bujaru. 2011.

Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia. Quilombolas de Bujaru e Concórdia. Nº 11. 2006.


sábado, 16 de abril de 2022

Nunca Desista de Seus Sonhos!

 






PARABÉNS PRA VOCCÊS!










Nossas homenagens a essas guerreiras que foram alunas desde o ensino fundamental até o ensino médio da Escola Municipal "Lazaro Conceição dos Santos" , na comunidade rural de Traquateua, no município de Bujaru, que conseguiram concluir  a graduação no curso de Pedagogia. As ex alunas Joice Teodoro, Roseane, Andreza Fernandez e Ariane Fernandez  que estão felizes e nos proporcionando muito orgulho não só para a comunidade, mais também para seus familiares e professores. 


Mesmo com todas as dificuldades e as adversidades da vida não se deixaram abater, mas sempre superando os obstáculos com garra e determinação. Não podemos negar que vivemos em um sistema excludente em que sempre os com menos posse são os maiores prejudicados. E com a conclusão dessa graduação dessas guerreiras e filhas de trabalhadores e trabalhadoras significa que conseguiram mais uma conquista dos menos favorecidos, portanto, bem representada diante do contexto em que vivemos. 







As imagens de vocês dar sinal de dedicação e esperança. Estou feliz pela realização e vitórias de vocês e saber que já são agora, colegas de trabalho e que tive o privilégio  de vivenciar e fazer parte dessa trajetória estudantil. Desejo muito mais vitórias e conquistas. Abraços do Blog do Riba.


segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

II Feira Cultural e de Ciências




Alun@s organizando a II Feira da Comunidade

 

Na localidade de São Raimundo, no município de Bujaru, Pará, no ano de 2012, os professores executaram o projeto II Feira Cultural e de Ciências, onde foram expostas as produções dos alun@s orientadas pelos professores do município, do ensino fundamental e do Sistema Organização Modular de Ensino - SOME, do ensino médio. O evento foi um sucesso, principalmente, com a participação da comunidade escolar e comunidade em geral. As imagens retratam a importância da Feira para aguçar  o conhecimento.


































sexta-feira, 17 de abril de 2020

Amazônia em foco: SOME em Bujaru






Nos 40 anos do Sistema de Organização Modular de Ensino - SOME,  completado no dia 15 de abril, foi lançada a obra Amazônia em foco: SOME em Bujaru, organizada pelos professores Ribamar Oliveira e Valdivino Cunha.



A obra teve, como ponto de partida, as experiências e reflexões durante o período de trabalho na política pública da Secretaria Estadual de Educação enquanto docentes do SOME. Configura enquanto produção do conhecimento na educação básica, no ensino médio, nos interiores do Estado, neste caso, no município de Bujaru, juntamente com alunos orientados sob suas responsabilidades, tendo como recurso metodológico a História Oral.



Os principais temas abordados na obra dizem respeito ao dia-a-dia daquelas comunidades que procuraram mesclar o conhecimento teórico ministrados aos alunos com o conhecimento empírico que eles trazem dos seus antepassados. A obra possui vários temas sobre os projetos de intervenções desenvolvidos durante suas estadas nas localidades, no cumprimento do calendário escolar, correspondendo a cinquenta dias letivos. Os textos da obra retratam algumas das produções sobre os temas pesquisados nas localidades onde funciona o SOME com intuito e objetivo de resgatar a história e a memória daquelas localidades.




A proposta da obra foi que ela venha a ser uma referência para pesquisas e estudos sobre educação do campo, tendo como objeto o Sistema de Organização Modular de Ensino – SOME, enquanto política pública para os filhos dos trabalhadores ribeirinhos, quilombolas, indígenas e dos campos. Suas expectativas é que numa linguagem simples e didática, o dialogo com o leitor possa contribuir em seus conhecimentos, reflexões e as diversas experiências sirvam como exemplos para serem adequadas e aplicadas na prática educativa e no resgate de suas histórias.



Pessoas que desejam o PDF da obra, sem gastos, entre em contato com organizadores:


Ribamar Oliveira: 91984996619  (WhatsApp)

Valdivino Cunha: 91982831591 (WhatsApp)


Boa leitura!

segunda-feira, 10 de junho de 2019

O SOME em Bujaru ( 2003 – 2018)





O presente texto tem como principal objetivo abordar aspectos importantes de um dos maiores projetos de inclusão social da Amazônia, que é o Sistema de Organização Modular de Ensino – SOME, partindo da premissa que é a atividade que inaugura em termos de produção de texto, sendo bibliográfica e utilização da metodologia da história oral, com entrevistas orais e escrita, em um primeiro momento escrito para apresentação em reunião pedagógica entre os professores do Módulo antes do início do I módulo, lotados na EEEFM “D. Mário Vilas Boas”, escola sede do município de Bujaru, no ano de 2018.



A Avaliação Diagnóstica do Sistema de Organização Modular de Ensino – SOME no estado do Pará, que é um relatório preliminar da pesquisa realizada pela Fundação Instituto para o Desenvolvimento da Amazônia – FIDESA deixa bem nítida a importância da pesquisa e o objetivo que foi “avaliar a estrutura e funcionamento do SOME e propor diretrizes para a melhoria qualitativa somente no que diz respeito ao ensino médio”. Para a pesquisa o SOME “visa garantir a oferta de ensino fundamental e médio aos alunos que moram em regiões em que não haja a oferta desses níveis no ensino regularmente pelo poder público” ( FIDESA -2003).



Dados levantados pela pesquisa junto ao Departamento do SOME, no ano de 2002, o projeto estava presente em 87 municípios da Amazônia paraense, distribuídos geograficamente em 47 sedes, 144 distritos e 191 localidades, sendo atendidos 22.338 alunos, com 591 professores. Importante levantarmos o questionamento quanto ao crescimento do SOME e a interiorização do ensino médio nas zonas rurais dos municípios do Estado do Pará.



O SOME que foi implantado pelo Governo do Estado do Pará, no ano de 1980, “Como proposta alternativa de atendimento de expansão do Ensino Médio presencial no Estado do Pará em resposta ao número elevado de alunos egressos do ensino fundamental sem atendimento escolar devido à carência de infraestrutura dos municípios impossibilitava a oferta do ensino médio”. (2003).



Para SEDUC, a efetivação do SOME que seriam implantados teriam que possuir as seguintes características, no ano de 2002, entre elas: Distância de centros urbanos e onde esta distância determine e impossibilidade de deslocamento de alunos para locais em que haja oferta de Ensino Médio; Demanda real e potencial reduzida, desaconselhando à construção de escolas de nível médio destinadas ao funcionamento de cursos regulares de ensino médio; clientela composta de pessoas de faixas de idade diversas e acima da faixa adequada para o Ensino Médio e grande carência de recursos humanos qualificados para a docência no Ensino Médio.




Com isso, a partir de 2003, tendo como uma das principais finalidades a expansão de oportunidades na área educacional, especifico no ensino médio, do Estado do Pará, a Secretaria de Educação do Estado do Pará – SEDUC, passou a oferecer o Sistema de Organização Modular de Ensino – SOME, nas localidades do município de Bujaru, para os estudantes filhos de trabalhadores rurais, ribeirinhos e quilombolas. Ressalto que, os devidos critérios utilizados pela SEDUC como ferramenta de seleção para atendimento aos municípios demonstrava a precariedade da oferta de ensino médio regular no Estado do Pará, em virtude de vários fatores, entre eles, a dimensão territorial de nosso estado, que superava muitos países. Não podemos esquecer que nesse momento a Amazônia paraense recebe grande fluxo de pessoas, vindo de outros estados, principalmente os nordestinos, provocando a explosão demográfica; além dos níveis de desenvolvimento socioeconômicos das regiões do Pará ser muitas diferentes uma das outras. Portanto, grandes impactos contribuíram com a desestruturação e avanço do ensino médio regular na zona rural da Amazônia paraense. No caso do Brasil, isso, já estava sendo frisado por Rui Barbosa, no ano de 1882, com base no diagnóstico da realidade brasileira da época, em que denunciava a precariedade do ensino para o povo no Brasil (...) (1992).




O município de Bujaru quem vem de origens indígenas, quilombolas e ribeirinhos sendo que, os primeiros habitantes da região faziam os deslocamentos entre os rios Moju, Capim e Acará, com grande fluxo migratório, vai provocar a intensificação da cultura da cana de açúcar no século XIX, com a criação de vários engenhos pela região propicia que era. No rio Bujaru tinha os engenhos Itaporanga, São Luis, São Joaquim, Nazaré e Santa Ana e Cateanduba. Logo se deduz que tinha bastantes escravos, somados com os sitiantes que trabalhavam na produção d os engenhos.  Com o tempo e com o processo de transição e consolidação da República muitos dos engenhos foram abandonados nessa região, alguns antigos escravos receberam como recompensa, outros foram vendidos, mas o que podemos notar neste período é que foram se tornando agricultores, principalmente com a produção de milho, arroz, feijão, onde muitos continuaram caçando nas matas em grandes quantidades de caça do mato e pescando nos igarapés e rios, formando famílias e ocupando as antigas fazendas (2006).




Atualmente o município de Bujaru, de acordo com os dados estatísticos do Censo Demográfico do ano de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o estado do Pará possui uma área de extensão territorial de 1.247.950,003 km². Dentro deste espaço se encontra localizado o município de Bujaru, com um território de 990.399 km², que abriga uma população total de 28.016 habitantes, sendo que residem na região da zona rural do município seria de 9.385, correspondendo 53,3% de homens e 8.211 habitantes do sexo feminino, correspondendo 46,7%, dentre os quais podemos destacar os povos das águas e das florestas como: os quilombolas, os extrativistas, os agricultores familiares, os ribeirinhos, os pescadores dentre outros. O município possui 20.397 eleitores, correspondendo 72% da população total, sendo 10.003 do sexo feminino, correspondendo 49,04 eleitoras e 10.384 do sexo masculino, correspondendo 50.91 de eleitores (2018), localizado no nordeste do Estado do Pará (2018).




Com documentos cedidos para este artigo e sendo Diretora naquele momento da Escola Sede “D. Mário de Vilas Boas”, a Professora Iracema Heitor da Silva aborda que em 2001 houve a solicitação, conforme Ofício nº 069/2001, de 17 de maio de 2001, com assinaturas do Prefeito Miguel Bernardo da Costa, Secretaria Municipal de Educação Rosângela Maria Vasconcelos Gomes e ela, para implantação do Sistema de Organização Modular de Ensino – SOME, para o ensino médio, no município. E a exposição de motivos da implantação enviada para Secretaria Estadual de Educação, aos cuidados da responsável pelo projeto Professora Nádia Eliane Cortez Brasil, do Departamento do SOME, diz o seguinte, no primeiro parágrafo: ”A implantação do Projeto SOME em nível de ensino médio, faz-se necessário pelo fato de que nosso município conta hoje com um quadro de 7.310 alunos da rede municipal de ensino, sendo que 5.160 destes alunos se encontram na Zona Rural. A esse número soma-se ainda 79 alunos que pertencem ao quadro do Estado, são alunos que cursam o ensino médio e precisam deslocar-se todos os dias de suas casas, alguns saem 03h00min horas (Manhã) para apanhar o transporte escolar e chegar até a sede do município”. A exposição frisa também que em virtude do crescimento de alunos o transporte escolar já não contempla confortavelmente toda clientela atendida, proporcionando a superlotação dos ônibus e fazendo com que os alunos corram riscos diante de tal situação.




A Professora Iracema Heitor, enfatiza na entrevista, que com a implantação do SOME em Bujaru, em 2003, ficou o gerenciamento em um primeiro momento a Prefeitura Municipal, que só após o desmantelamento do SOME pela então Secretaria estadual de Educação Rosa Cunha, quando retirou 60% da gratificação de deslocamento, passagens de aviões, material didático, Convênio com municípios entre outros é que o SOME passou ser gerenciado pela Escola Sede, ou seja, só a partir do segundo semestre. Neste momento, saíram do SOME, 192 Professores, por não concordar com a política autoritária e nefasta para a educação do Estado, inclusive, minha pessoa. E, continua, o Ofício foi solicitando a implantação das localidades de Ponta de terra (24 alunos), Km 29 (Com 29 alunos), São Raimundo (60 alunos), São Sebastião (29 alunos), São Lopes (32 alunos), Santana (15 alunos) e Santa Maria (34 alunos). Mesmo com a solicitação de sete localidades, com números suficientes de demanda, a SEDUC só liberou dois polos que foram de São Raimundo e da Curva. As outras localidades foram sendo implantadas gradativamente, menos a Vila Santana e Santa Maria, que até o momento não foram liberadas. Os alunos de Santana se deslocam para o Km 29 para estudar. A informante ressalta através de documentos a solicitação para implantações do SOME no município e a importância da Casa dos Professores, para servir de base para muitos professores que se deslocavam de outros municípios ou da capital do Estado, Belém.




Segundo a ex Coordenadora, Simone Soares Sampaio, o Sistema de Organização Modular de Ensino – SOME em Bujaru foi implantado em 2003, em dois polos, na Curva e São Raimundo, funcionando só com primeiro ano e gradativamente foi aumentando as turmas e em 2005 completou as séries seguintes”. E Continua: “A partir de 2006 o número de polo aumentou, sendo implantado nas localidades de São Sebastião, São Lopes, Providência e Ponta de Terra, sendo iniciado na localidade de Traquateua em 2007 e no Km 20, que era chamado de Providência II, como se fosse à extensão do polo de Providência, já que o número de turmas era bastante pequeno”.



Para o Professor Valdivino Cunha da Silva sua história tem uma relação prazerosa com o SOME e com o município de Bujaru, pois concomitantemente foi lá que iniciou sua carreira profissional no magistério, como professor de Sociologia. O referido professor iniciou suas atividades docentes na localidade de São Raimundo. Segundo ele, as medidas para melhorias da educação no município, caso tivesse poderes, injetaria um maior volume de recursos financeiros, sendo que esse aporte de recursos seria aplicado no sentido de melhorar o exercício da docência, garantir a universalidade e a qualidade da merenda escolar. Melhoraria também a infraestrutura, incluindo a Casa dos Professores, das escolas e do transporte escolar. Faria um grande seminário com todos os seguimentos envolvidos com a educação de Bujaru para levantar e hierarquizar as demandas. O informante ressalta que o deixa orgulhoso por fazer parte dessa política pública inclusiva e feliz quando ver de vez em quando há alunos do SOME que são aprovados nos vestibulares. Segundo o Professor, isso comprova a importância do SOME para as localidades interiorizadas deste Pará, e faz dela uma das políticas pública mais inclusiva; assim como diante de ex-alunos do SOME que se tornaram professores, já que é sinal de que a semente vingou e deu frutos. (...) Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender (...) (2003).




Na localidade de Ponta de Terra O SOME foi extinto em 2013 em função do descompromisso da Direção da Escola D. Mário com a comunidade, já que desejava a não saída do SOME, prejudicando muitos alunos e alunas, já que com a implantação do regime regular o quadro de docentes não estava completo e sendo a maioria contratados diferente dos educadores do SOME, que são professores concursados e efetivos, sendo muitos possuindo especializações e mestrados. Um grande retrocesso e precariedade para a educação bujaruense, fazendo com que alguns alunos que tinham condições se deslocassem para Bujaru sede, o município de Santa Izabel e Belém.




Na época da implantação, o quadro de professores do SOME era completo, sendo um dos pioneiros o Professor de Espanhol e Língua Portuguesa Railson Fernandes Elmescany e a Professora Nazaré Laurido, de Língua Portuguesa. Segundo o Professor Railson, nos polos que tinha neste momento era São Raimundo e Curva e passaram dois professores que eram: Enock, de matemática e França de Geografia. E continua, neste período foram cortada 60% de gratificação dos professores, ficando dividida e o que fez com que os professores parassem de trabalhar nas duas localidades de funcionamento, sendo contratado para trabalhar no KM 29, Curva, com algumas turmas, sendo sua primeira localidade de trabalho pelo SOME, com as mesmas dificuldades que ainda temos hoje, como as Casa para Professores ficarem, já existia naquela época, para se ter ideia, nos dois primeiros anos que trabalhou na Curva, dormia numa maca, inclusive, algumas vezes quando retornava a noite das aulas, geralmente, encontrava sangue no corredor, provavelmente, D. Graça tinha feito algum curativo, neste momento era sujeito a aceitar essa situação até porque era novo e precisava trabalhar. O informante ressalta que em São Raimundo a Diretora era Conceição Vera e no Km 29, a Nilcelene. Railson, diz que, com a chegada do novo Prefeito Emanoel Muniz, solicita a ampliação a partir de 2005 e chegando novos professores, como Célia Machado, de Biologia; ele, Denis Heitor, de Matemática, João Wanzeller, de Matemática; Girvânia Mesquita, de Geografia. Na entrevista, realizada no dia 12 de maio de 2018, frisou um dado cômico de sua experiência no SOME nesses quinze anos, que aconteceu na localidade de São Raimundo, em 2003, naquele momento não tinha energia e trabalhava com a disciplina de Artes, sobre as atividades pedagógicas voltadas para lendas e mitos da região, e falava-se muito em Matin, Curupira e outras lendas. Quando foi numa certa noite, segundo o linguajar dos moradores, foi “amassado” pela Matinta Pereira e Matin, já que não conseguia falar, não conseguia se mexer e assim aconteceram outras vezes. Finalizando sua conversa, abordou que com a expansão, a partir de 2005, o SOME assume o fundamental em São Raimundo e Ponta de Terra e aumentando o número de alunos, assim como carga horária para os professores.




Nesses 15 anos de implantação do SOME no município de Bujaru, podemos observador que esta modalidade de ensino deu uma grande contribuição e desenvolvimento para o município.




Ressalto que com a ocorrência anotada em 2005, a Secretaria Estadual de Educação do Estado do Pará – SEDUC, através da portaria 064/05, definiu a classificação dos municípios e localidades pelas categorias A, B e C considerando o nível de dificuldade de acesso às localidades, nos termos estabelecidos pelo decreto nº 390/2003, 30%, 60% e 100%. Isso provoca desestruturação no quadro de professores na época, contribuindo com a descentralização do SOME, ficando sob responsabilidade das Unidades Regionais de Educação – URES e Escolas Sedes, tirando toda responsabilidade do Departamento do Sistema de Organização Modular de Ensino – SOME que ficava na sede da Secretaria Estadual de Educação – SEDUC, em Belém do Pará. Logo as oligarquias municipais controlam a educação e em especial o SOME, sendo inclusive removidos professores com outros vínculos, que não era só do estado. Em 2003, foi o marco histórico pela descaracterização do SOME e da educação interiorizada na Amazônia paraense.




Através de muitas reivindicações e lutas da categoria dos professores, em 29 de abril de 2014, através da Lei nº  7.886, o Sistema de Organização Modular de Ensino – SOME foi estabelecido como Política Pública Educacional do Estado do Pará, no âmbito da Secretaria de Estado de Educação.




Em 2018, segundo a Coordenadora do SOME em Bujaru, Maria Eliete da Silva Mesquita, o POLO CURVA/ KM 29: 5 TURMAS ATIVAS, sendo  o 1º: 2, 2º: 1 e 3º: 2, com um quantitativo de alunos de 154; POLO SÃO LOPES: 3 TURMAS ATIVAS, sendo 1º: 1, 2º: 1 e o 3º: 1, com 60 alunos; POLO SÃO RAIMUNDO: 6 TURMAS ATIVAS, sendo 1º: 2, 2º: 2 e o 3º: 2, com um total de  189 alunos; POLO TRAQUATEUA: 3 TURMAS ATIVAS, 1º: 1, 2º: 1 e a 3º:1, com 82 alunos; POLO SÃO SEBASTIÃO:  4 TURMAS ATIVAS, 1º: 2, 2º: 1 e a 3º: 1; POLO PROVIDENCIA : 3 TURMAS ATIVAS, sendo 1º: 1, 2º: 1 e a 3º: 1, 47 alunos.



(...) A educação é política! Depois de descobrir que também é um político, o professor tem de se perguntar: “Que tipo de política estou fazendo em classe?” Ou seja: “Estou sendo um professor a favor de quem?”. Ao se perguntar a favor de quem está educando, o professor também deve perguntar contra quem está educando (2003). São 39 anos de SOME no estado Pará, desses, 15 anos no município de Bujaru.



Entrevistas:

Iracema Heitor da Silva

Maria Eliete da Silva Mesquita

Railson Fernandes Elmescany

Simone Sampaio

Valdivino Cunha da Silva


Bibliografia


Fundação Instituto Para o Desenvolvimento da Amazônia – FIDESA. Relatório Preliminar da Pesquisa: Avaliação Diagnóstica do Sistema de Organização Modular de Ensino – SOME no Estado do Pará, 2003.

Freire, Paulo. Pedagogia da Autonomia. Paz e Terra. 2003.

Freire, Paulo & Shor, Ira. Medo e Ousadia. Paz e Terra. 2003.

Oliveira, José Ribamar Lira e & outros (Org.). Contando a História e a Memória de Nova Providência. 2018.

Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia. Quilombolas de Bujaru e Concórdia. Nº 11. 2006.

Soares, Magda. Linguagem e Escola. 9ª Edição. Editora Ática. 1992.