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sexta-feira, 7 de março de 2014

São Joaquim de Ituquara (Baião): História e Memória - Parte V



Parte de coleta de dados, parcial, realizada com alunos das turmas da 1ª série "A" e "B" e 2ª série "A" e "B", na localidade de São Joaquim de Ituquara, no município de Baião, durante reposição de aulas, nos meses de janeiro e fevereiro de 2014, pelo Sistema de Organização Modular de Ensino - SOME.

 Em comemorações ao Dia Internacional da Mulher, que será amanhã, dia 08, estamos postando. Viva o dia Internacional da Mulher, que são todos os dias.


                       MULHERES EM ITUQUARA: Saberes e Memórias

Relações de Gêneros

O papel da mulher depois que se estabeleceu a sociedade privada, se foi tratada     de maneira inferiorizada, basta que recorramos à história da Grécia Antiga que mesmo no apogeu da democracia ateniense, foi reservado à mulher na hierarquia masculina     um papel inferior. No caso brasileiro, somente a partir da década de 30 é que   a    mulher passou a ter direito a votar e essa submissão é imposta até hoje, onde além      de   ser menosprezada socialmente, sofre diversos tipos de discriminação e violência, seja    ela psicológica moral ou física cantada em prosa e verso onde uma letra cantada   e   muito cantada nas rádios décadas atrás diz: “Amélia que era mulher de verdade, Amélia   não tinha a menor vaidade, achava bonito não ter o que comer aquilo sim é que era mulher” Os relatos a seguir tornam-se fundamentais à medida que revelam um pouco da cultura construída ao longo de um processo de formação histórica e geográfico-espacial; assim como abordam questões que precisam ser refletidas por toda sociedade em relação aos saberes e suas experiências vividas e adquiridas.                      
       
A História de dona Amélia, que não é a mesma da música, nos relata sobre o seu passado, que ela passou muitas dificuldades principalmente de água que era preciso carregar no balde do igarapé para casa e subir uma ladeira enorme para poder chegar a casa com água. O alimento que precisavam caçar no mato ou ir para o rio pra ter o que comer, eles precisavam de arpão e caçavam de armas que eles mesmos faziam, quanto a roupa era preciso comprar o pano que era ruim e muito caro, eles não tinham emprego fixo.

                                             

                                D. Maria Amélia com as alunas Regiane e Adriele


O material escolar eles não tinham, eram as mães que faziam para seus filhos, e a educação que era muito ruim, porque não tinha professor e nem escola adequada para estudar, a saúde não era boa não tinha posto de saúde no lugar que eles moravam, ela ia para o mato para buscar lenha para fazer fogo, tudo isso aconteceu foi no passado dela, ela falou que foi muito sofrido nessas partes da vida dela.

A respeito do marido dela, ele nunca a maltratou ela, sempre que ele podia ajudava no que podia, e em geral as pessoas daquela época achavam que o sustento da casa deveria depender apenas dos homens. Por isso só eles deveriam trabalhar fora de casa, à responsabilidade das esposas era cuidar da casa e dos filhos e hoje em dia não, as mulheres conseguiram trabalhar fora de casa e conseguiram seu próprio sustento, e não dependem só  do homem.

Atualmente, o mundo é mais fácil, o estudo, a alimentação, a saúde entre outros. A mulher tem emprego, ajuda o marido na roça, nas despesas e é reconhecida como uma “batalhadora”, “guerreira” por ter passado muitas  coisas ruins e chegar onde está.  Ela é respeitada por todos, principalmente pelos homens que sempre a ajudaram. Para exemplificarmos a importância da mulher na sociedade brasileira temos uma representante feminina comandando nosso país, a Presidente Dilma Rousseff.
                                                                     

               A Srª Paula Gonçalves Morais, afirma que as coisas naquela época eram muito diferentes , quando eu fiquei moça, a minha mãe falava tu não vai, e não era pra ir, mas eu não obedecia eu falava que eu ia, e eu ia quando eu queria ir pra festa eu pedia pra mamãe e ela falava pede pro teu pai e eu pedia pra ele, se ele falasse não, era não. Quando eu queria ir pra festa e eles não deixavam, eu deixava os dois dormirem, e fugia pra festa, e gostava muito de dançar, quando eu chegava a casa eu apanhava muito. Ai me envolvi com um rapaz e engravidei dele mas ele não quis assumir nós, então a mamãe falou que ia me amparar, mas se eu procurasse outro filho eu ia me virar. E depois que eu tivesse o filho eu tinha que trabalhar, a mamãe me maltratou muito, sofri, mas com o tempo eu arrumei marido, naquela época nós passávamos muita dificuldade, porque nós não tínhamos uma casa boa pra morar, era feita de madeira e coberta de palha e tinha dia que tinha que comer e tinha dia que não tinha, eu era dona de casa. A diferença daquele tempo pro dia de hoje, era a juventude porque naquele tempo não era violento como agora que as filhas não respeitam os pais, e hoje em dia não tem respeito como naquele tempo, e já existia o direito da mulher, porque quando o homem separava da mulher, todo o bem material do homem ia ser tudo da mulher, e naquela época não era bom, era mais difícil, porque não tinha socorro em relação à doença. Muitas pessoas morriam por falta de médico pra socorrer, para descobrir alguma doença. O meu marido bebia e me batia, teve uma vez que ele bebeu e me botou pra correr, queria me bater e eu corri só de bermuda. A relação entre pais e os filhos era boa, os filhos obedeciam nós morava na colônia e não tinha quase pra onde sair nós dependia do timbuí (Tipo de cipó que tece paneiro, vassoura, covo: pega tracajá), da farinha, do milho, do arroz, da banana, da abóbora, do leite de maçaranduba e carvão que nós tirávamos para vender.


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As alunas Lucilene e Devanilse  e a informante


Conversamos com a senhora Sime  sobre sua vida, ela nos disse que é muito boa. Porque ela tem uma família tem seus objetivos concretizados, mas enfrentou muitos obstáculos na vida ela era uma excelente professora, agora se aposentou é independente  tem com que se  sustentar.

A relação com seu esposo é muito importante para ela. Porque já estão muitos anos casados, ela é uma pessoa bastante conhecida aqui em Ituquara porque foi uma ótima Professora, ela é uma senhora muito querida e respeitada. O estudo foi muito importante na vida dela, por isso ela diz para nós alunos que temos de estudar para sermos alguém e mais não jogue seus sonhos fora você nunca sabe o que pode ser é só você querer e confiar em si mesmo e em Deus, que ele sempre guarda você.

E como ela dizia tinha um sonho de ser Professora e ela ia conseguir chegar lá confiantemente e se tornou uma excelente pessoa.
                                                           
Ela tem uma banda de música que construiu com sua força de vontade, a banda pra ela foi muito bom porque nem se passava pela cabeça que chegasse ao ponto ela vai a Igreja, rezar pedir a Deus pra dizer o quanto é grata por tudo que faz e fez por ela e pela gente porque tudo que Deus faz é bom. Diz que conhece tantos lugares, pessoas maravilhosas e especiais na vida dela. Ela tem muito orgulho da vida que tem e da família que é muito importante pra ela essa é um pouco da história de uma grande mulher lembrada por várias pessoas, mas ela disse que não é fácil você conseguir o que quer, pra ter o que você quer, precisa correr atrás, precisa enfrentar os obstáculos da vida tem que ser forte, se um dia você cair levante de cabeça erguida, tem coisas na vida que não pode deixar de sonhar porque quando menos esperar acontece. Essa pessoa é conhecida como Dona Sime e como todos nós chamamos. Foi um pouco de sua história.

Dona Maria sim, sofreu muito. Ela nos conta que dificuldade que passou foi de trabalho, de fome, roupas, calçada e muitas outras coisas, como por exemplo, eu não usava carvão e muito menos gás, usava somente a lenha. ’’

Sofreu muito na mão do seu marido, mas disse que agora não é mais aquela boba que era antes, já sabe se defender, pois já existe a lei que protege as mulheres. “Eu não sou mais obrigada pelo meu marido a cuidar da casa, mas durante os meus filhos tiverem comigo eu sempre vou cuidar deles e até hoje com ajuda de Deus.”
                                                           
Grande parte dessas informações nos permite refletir sobre os saberes, imaginários, representações e práticas sociais cotidianas, a saber: A mulher desempenha várias funções: de mulher, de mãe e às vezes do pai. D. Amélia relaciona uma dessas funções “que ela passou muitas dificuldades principalmente de água que era preciso carregar no balde do igarapé para casa e subir uma ladeira enorme para poder chegar a casa com água. O alimento que precisavam caçar no mato ou ir para o rio pra ter o que comer, eles precisavam de arpão e caçavam de armas que eles mesmos faziam”. Na função de mãe “O material escolar eles não tinham, eram as mães que faziam para seus filhos”.  São funções que demonstram as condições sociais e tipos de trabalho que essas pessoas desenvolveram e/ou desenvolvem como frisa D. Maria: “eu não usava carvão e muito menos gás, usava somente a lenha”, ou a Professora Sime “que enfrentou muitos obstáculos na vida ela era uma excelente professora, agora se aposentou é independente tem com que se sustentar.”.

É visível o destaque dos valores morais como o respeito, em relação ao marido e aos filhos, D. Amélia nos fala do seu marido “ele nunca a maltratou, sempre ele ajudava no que podia”. Ao contrário de D. Amélia, D. Maria “Sofreu muito na mão do seu marido, mas disse que agora não é mais aquela boba que era antes, já sabe se defender, pois já existe a lei que protege as mulheres“. Em relação aos filhos, D. Paula Gonçalves, nos diz “A relação entre pais e os filhos era boa, os filhos obedeciam nós morava na colônia” e continua “A diferença daquele tempo para o dia de hoje, era a juventude porque naquele tempo não era violento como agora que as filhas não respeitam os pais, e hoje em dia não tem respeito como naquele tempo”. Contudo nem todas concordam com padrões vigentes da época como relata D. Paula “Quando eu queria ir pra festa e eles não deixavam, eu esperava os dois dormirem, e fugia pra festa, e gostava muito de dançar, quando eu chegava a casa eu apanhava muito”.
                                                                                                                 

Portanto, as denuncias sociais também foram surgindo no decorrer das falas das nossas informantes, como falta de escolas, postos de saúde, falta de saneamento básico, problemas estruturais que permanecem até hoje. Nossos governantes locais deveriam olhar com mais responsabilidades e governar para o povo. 

2 comentários:

  1. Através da entrevista a gente acaba conhecendo as histórias das pessoas com acontecimentos que a gente nem sequer imaginava...
    Muito bom o trabalho professor! Abraços.
    Valdenir Cunha da Silva

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  2. Parabéns aos alunos pela dedicação e empenho pelo trabalho desenvolvido.
    Valdenir Cunha da Silva

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