No
ano de 2001, fui deslocado para desenvolver minhas práticas educativas no
município de Canaã dos Carajás. Este, localizado na região sudeste do Estado do Pará,
surgiu, a partir do assentamento, através do projeto Carajás, implantado pelo
Grupo Executivo das Terras do Araguaia e Tocantins (GETAT). Município recém-emancipado,
pelas atividades dos projetos, tornava-se um atrativo maior para grande
quantidade de pessoas que vinham de outros Estados em
busca de emprego, principalmente com a forma de relações trabalhistas, através
do serviço terceirizado.
A
distância entre Belém e o município de Canaã é
de 764,9 km, com aproximadamente 12 horas de viagem. O turno das aulas
contribuía para que eu e o colega saíssemos de Belém, de
carro particular, por volta das cinco horas da manhã e chegássemos,
aproximadamente, por volta das 18 horas de algumas das segundas-feiras, já que
não era toda semana que vínhamos em Belém. Geralmente, era de 15 em 15 dias.
Essas
andanças nas estradas ajudavam a conhecer ainda mais o nosso Estado. Naquele
ano, o chão era piçarra mesmo, com muita poeira, mas pra nós era um lazer e
diversão, como quem tem bem menos idade, apesar
do compromisso e responsabilidade com uma das maiores políticas públicas de
inclusões sociais da Amazônia.
Neste
módulo, o funcionamento do SOME era apenas pela parte da noite, com mais um
profissional que revezava os horários de aulas durante este turno. Em
princípio, com número pequeno de alunos nas turmas; porém,
à medida que se dava o andamento das práticas educativas chegavam mais pessoas
para se matricularem no ensino médio. A escola era arejada,
ventilada, construída através da velha planta do ex-governador Hélio Gueiros,
com doze salas de aula, porém apenas quatro turmas em funcionamento, sendo duas
turmas do primeiro ano e uma de todos os restantes das séries.
Partes
significativas dos alunos trabalhavam nos projetos ao redor da sede do
município, o que fez com que percebêssemos, como consequência imediata, que os
alunos apresentavam uma fisionomia cansada e sonolenta durante o transcurso das
aulas, trazendo um enorme desgaste à produção.
Mesmo assim, sempre buscávamos alternativas, descontração e atividades que
pudessem estimular os alunos a participarem das aulas. Lembro-me desse período como
se fosse hoje: em um momento, nas atividades, um dos alunos estava tão
distraído que trocou meu nome pelo do outro professor. Quando peguei a folha de
atividade, percebi logo os nomes trocados, porém, as
questões propostas estavam respondidas perfeitamente, o que me chamou a
atenção. Claro, chamei o aluno e mandei apenas
acrescentar meu nome.
São essas experiências marcantes, como as andanças nas estradas, atravessando um município e
outro, que faziam com que não só sentíssemos as
diferenças econômicas e culturais, principalmente, mas víssemos essas
diferenças expostas aos nossos próprios olhos. Olhos de pesquisadores. Rememorar
me deixa feliz, apesar das diversidades que vivenciamos durante alguns períodos
e contextos. Assim, como o reconhecimento de parte dos
governantes do Pará, para que se interessem, realmente,
por essa política pública.
Revisão: Carlos Prestes (Ex SOME)
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