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segunda-feira, 15 de junho de 2020

Relatos de experiências como professor do Sistema de Organização Modular de Ensino – SOME






Cada um de nós, professores, cada um com suas próprias histórias têm experiências que se fossem relatadas dariam para escrever livros e livros. Vou relatar aqui uma das inúmeras que vivenciei.



Na década de 90, no município de Tailândia, vivi momentos tensos no exercício da docência, por algumas horas achei que não contaria essa história, minha vida ficou por um fio, aliás, a minha e de outro professor que estava lá comigo, o professor de geografia, Altemar Pimenta, que já partiu, está em outra dimensão. A história dos "modulindos" e "modulindas" de todos os tempos e lugares, nunca foi só de flores, os espinhos também fizeram e ainda fazem parte dessa vida itinerante e ao mesmo tempo gratificante que é o SOME.



Ao chegarmos à Tailândia para trabalharmos, fomos recebidos no terminal rodoviário pela autoridade máxima daquele município que era o Prefeito. Com a recepção proporcionada por ele, achei que nossa vida seria facilitada, mas logo em seguida percebemos que as coisas não seriam fáceis uma vez que a Casa dos Professores que nos apresentaram constavam apenas de armadores de rede e nada mais. Não tinha móveis nem utensílio que possibilitasse o nosso alojamento de forma minimamente digna.



Mesmo diante de tal situação, as aulas iniciaram no dia cinco de agosto, pela parte da noite. O convênio entre Estado e Município em suas cláusulas que dizia onde deveria ter uma casa digna, não correspondia na prática. Essa situação de total descaso com o alojamento dos professores se arrasta há décadas e que perdura até hoje, não mudou absolutamente nada. Diante da situação de tamanho descaso, nós, professores fomos à Prefeitura para tentar falar com o Prefeito sobre a situação da casa. O Prefeito não nos recebeu e mandou o recado para falar com a Secretaria Municipal de Educação, que sempre tinha uma desculpa que iriam resolver. Nós, professores, fizemos uma relação de bens e materiais que a casa necessitava, como uma mesa com bancos, geladeira, fogão, panelas e outros itens necessários para suprir nossas necessidades básicas, inclusive quando chegávamos não tinham água para nada.



Diante de tal cenário, sem receber posição nenhuma da Prefeitura, já que estávamos cansados de solicitar o pedido, resolvemos envolver também os alunos para ver se sensibilizávamos o Prefeito para atendimento das nossas necessidades, interrompemos as aulas, após um mês, e nos reunimos às duas turmas para colocar os alunos a par dos ocorridos, a ideia nossa era demonstrar aos nossos alunos que o problema não era nós e sim o Prefeito que não queria atender algo que é vital para o funcionamento das aulas que é a Casa dos Professores, uma vez que nós éramos de outra cidade, mais especificamente Belém e não podíamos ficar naquelas condições. Deixamos claro que a responsabilidade era toda do Prefeito naquele quesito.



Antes do termino da reunião alguém foi informar ao Prefeito o que estava ocorrendo. Acreditamos que a informação chegou a ele deturpada, pois antes mesmo da reunião terminar o Prefeito já se encontrava a espreita nos aguardando do lado de fora da Escola acompanhado de seus seguranças (jagunços).


O clima estava tenso naquela reunião e por isso mesmo a diretora da escola retirou-se imediatamente receosa do que poderia acontecer, uma vez que naquela época, muitas desavenças eram resolvidas a bala, as cidades, notadamente do sul e sudeste do Pará eram verdadeiros faroestes. O porteiro veio comunicar-nos, que o Prefeito estava armado e mais três pistoleiros. Isso retratava o cenário que já vinha acontecendo desde a década de 70 a base da pistolagem, aquelas cidades eram terras sem lei, ou a lei da bala. Claro que aquela informação do porteiro deixou-nos tensos, pois estávamos numa situação muito vulnerável e, portanto, presas fáceis de possíveis execuções, pois de certa forma estávamos indo contra o Prefeito da cidade que era pessoa temida e que poucos ousavam contrariá-lo.



Antes de terminar a reunião, eu temendo por minha própria vida, chamei oito alunas, disse que estava acontecendo e que precisava de proteção e que elas não saíssem dalí para que eu e o Professor Altemar não ficássemos mais vulneráveis ainda. O porteiro sugeriu que nós, professores,  passássemos  a noite na Escola, mas avaliamos que aquela não era a melhor forma de segurança. Em função do risco de morte que corríamos no final da reunião os professores comunicaram que não ficariam mais no município e que iríamos se apresentar à SEDUC com exposições de motivos da saída do município.



Com o termino da reunião, partes dos alunos ficaram para nos dá um pouco de proteção, em nosso trajeto rumo à Casa dos Professores, Na saída, próximo da escola avistamos o prefeito e mais três jagunços que nos intimidava com seu olhar de fúria claro que naquele momento temíamos por nossas vidas, chegamos a suar frio, pois achávamos que ele nos mataria algo comum naquela região.



Como tática de sobrevivência, acertamos, já a caminho da Casa dos Professores, colocamos alguns alunos na frente e outros atrás, às vezes de braços dados. A ideia era evitar que o Prefeito atirasse em nós, professores. Na saída da Escola, o Prefeito nos acompanhou em seu carro, ora na frente ora atrás, com palavras de insultos e desafios. A ideia dele era que reagíssemos para que ele pudesse atirar nos insultava acelerando o carro ou com palavras de baixo calão, nos provocando a todo custo, nos chamando de covardes, nós estávamos numa situação bastante desigual e por isso mesmo não esboçamos nenhuma reação até porque não estávamos ali com aquela finalidade e sim de educadores.



Depois de muito sufoco, medo e ainda protegido pelos aluno/as conseguimos chegar ao restaurante protegidos. Mesmo assim, o provocador ficou do lado de fora chamando os professores para “briga” e provocações com palavrões de baixo calão. Após aproximadamente uma hora, o provocador foi embora e os professores esperaram o TRANSCAMETÁ que passaria 23h30min com destino a Belém. Mesmo dentro do ônibus não havia paz, pois imaginávamos que a qualquer momento o bandido do Prefeito poderia chegar parar o carro e nos liquidar ali mesmo dentro do ônibus. Depois de toda essa tempestade conseguimos finalmente chegar a Belém são e salvo.



Em virtude da situação, os professores ficaram cumprindo o horário na Coordenação do SOME, em Belém. Com duas semanas depois, aconteceu à reunião entre a Coordenação do SOME, Professores e representantes do município. Pelo município, estava o Vice Prefeito, a Secretaria Municipal de Educação, um pai de aluno e o aluno que saiu no meio da reunião. Pela SEDUC, estava a Coordenadora Geral do SOME, Professora Rosa Gomes, mais três técnicas pedagógicas e os professores. No final da reunião, a Coordenadora Geral decidiu em nome da Secretaria Estadual de Educação - SEDUC que não teria o ano letivo e o funcionamento do SOME. E deixou claro que não assinaria convênio com o município, enquanto o Prefeito estivesse no poder municipal, que jamais mandaria professores para terem a experiência que nós, Professores vivenciamos.

sábado, 28 de dezembro de 2019

Reconstruindo a História e a Memória do SOME




Entrevista concedida pelo Professor Roosevelt, lotado em Abaetetuba, no dia 14.07.2010.


Segundo o referido Professor, "entrou no SOME, no ano de1986, para ser preciso, no dia 03 de junho de 1986, começando no município de Rondon do Pará, trabalhando no Curso de Contabilidade. Rondon, estava começando a se desenvolver, neste período, era só poeira.  E continua, a equipe era eu e o Professor Luís Carlos, no circuito de Rondon do Para, Rio Maria, Xinguara e Brejo Grande do Araguaia. Municípios do sul do Pará, na época o sul do Pará, era um bicho papão, as pessoas tinham medo de se deslocar, principalmente quando se falava em Rio Maria, porém, quando chegávamos lá desenvolvíamos nosso trabalho e não era nada disso que as pessoas falavam, quando se trabalha com a educação e quando levamos informações para os alunos a história vai mudando e trabalhei seguidamente quatro anos no sul do Pará, na qual a primeira turma de Rondon do Pará levou meu nome. Com o Curso de Contabilidade da época, os nossos alunos tiveram grande credibilidade junto às empresas, comércios, bancos, houve concursos e a maioria dos alunos foi aprovada nos concursos que realizavam, sendo beneficiados pelo SOME no Município".


E continua: "Depois fui removido para outros circuitos e lugares como Dom Eliseu, Tucumã, Ourilândia do Norte,... E sempre trabalhando com o Curso de Contabilidade".


O informante, vai relatando e resgatando importantes considerações como: "Interessante, Riba, é que o SOME sempre desenvolveu projetos de intervenções, dependendo da realidade da localidade ou município, nós executamos o Projeto em D. Eliseu em que os alunos foram conhecer a Serra de Carajás, que é a maior mina mineral do mundo, que fica no Estado do Pará e nós como paraenses não conhecíamos, elaboramos um projeto para ser aprovado pela Companhia do Rio Doce e levamos 40 alunos. A partir de Açailândia pegamos o trem até Parauapebas, onde a Vale proporcionou hospedagem, alimentação e todos foram bem recebidos na Serra dos Carajás".


Além disso, enfatiza que "Depois, comecei a trabalhar próximo de Belém, como São Francisco do Pará, Moju, Maracanã que é outra realidade, sempre desenvolvendo projetos e todo mundo sabe, que o SOME não é só sala de aula, o Módulo é muito mais que isso, trabalhar projetos nas comunidades, conscientizar nossos alunos, sempre reivindicando o que é de direito, aquilo o que pode ser melhor, aquilo que vai servir para vida dele e sempre debatendo a formação do cidadão e juntamente com os colegas, sempre participando das organizações dos professores. Lembro que quando trabalhava eu, o Professor Raimundo Rosário, o Professor Leonardo Pantoja, sempre tínhamos dificuldades, na época atrasava ajuda de custo (Gratificação hoje) e foi feito um Encontro no antigo Centro de Treinamento de Recursos Humanos - CTRH, em Marituba, com a Professora Glória Paixão (Diretora do 2º Grau) e estava acontecendo a discussão em relação à Ajuda de Custo que estava atrasada três meses e o Professor Raimundo do Rosário falou para a Professora Glória Paixão perguntando se o dinheiro era dela, parece que é seu e disse, o dinheiro é nosso, nós que pagamos impostos, enquanto os poucos professores paralisaram, depois conseguimos reverter o quadro, através de muita pressão".


Um dado importante também, abordado pelo Professor entrevistado: "Nesse momento, no segundo mandato de Jader Barbalho, depois do Governo de Hélio Gueiros, o interessante é que neste governo a Ajuda de Custo era paga em PRD (Folha suplemetar), e quando íamos atrás, sempre diziam que estavam sem previsão. No governo Jader, ele atrelou a Ajuda de Custo no contracheque o que amenizou o problema com 100% de gratificação em cima do bruto".


Assim, aborda "Paulatinamente, no final da década de 90 e inicio de 2000 os Cursos de Contabilidade e Magistério foram extintos, voltando a educação normal, sendo o professor readaptado as disciplinas afins, como no meu caso, que sou Contador, fui aproveitado na disciplina de matemática e comecei a trabalhar em outros municípios próximos de Belém como Igarapé-Miri, Moju, Abaetetuba, inclusive já trabalhando no ensino fundamental".


E deixa claro, "No Módulo as dificuldades são grandes, assim como são grandes os desafios, para o professor trabalhar no Módulo, ele precisa ter identidade interiorana, eu não tenho dificuldades, já que nasci no interior, sou de Ponta de Pedras, nascido e criado no interior, então as dificuldades que muitos colegas enfrentam eu não tenho, eu tiro de letra e tenho o Módulo não como segunda casa, porém, como primeira, porque eu vivo, eu sofro quando o Professor do SOME não é respeitado, não o respeito que merece, sofro quando colegas entram no Módulo sem compromisso que deveria ter, a gente tenta ajeitar e tenta amenizar, porém, é complicado".


O Professor enfatiza o lado politico do SOME, naquele momento:"Continuamos na luta, os governos passam e a gente contínua. Hoje tenho 24 (33 anos atualmente) anos de Módulo. Só tive dois empregos. Trabalhei sete anos no Colégio Moderno e entreguei o lugar e o SOME, só saio quando me aposentar. No inicio do Governo Ana Júlia, na localidade de Maúba, em Abaetetuba, adequamos o projeto da Rede Globo sobre Cidadania, onde com apoio de várias instituições nós conseguimos tirar documentos da comunidade que não possuíam, corte de cabelos, palestras, oficinas, etc. Foi interessante o trabalho. Mas sabe que as dificuldades são muitas. E qualquer atividade que você faça, envolve recursos, dinheiro. E sem dinheiro para trabalhar é complicado. O SOME tem 30 (39 anos atualmente) anos e eu particularmente tenho 24. Acho interessante no Módulo às mobilizações quando são necessárias. Lembro quando estava em Concórdia do Pará, em 2003, com as mudanças de Módulo para GEEM, tivemos que fazer atividades para conseguir recursos para mobilizar em prol do Módulo e conseguimos trazer cinco ônibus com alunos e deu tudo certo, porque não faltou nada em termos de alimentação, transportes, hospedagem, isso foi interessante, o mais interessante foi trazer o pessoal de Porto de Moz, saímos domingo 9 horas e chegamos a Belém 1 00 h da terça-feira, conseguimos trazer 20 alunos, fora que tínhamos mobilizado em Cachoeira do Arari. O importante, é que tivemos o apoio de algumas Prefeituras e quando as comunidades estavam reunidas, parecia um formigueiro humano, muito lindo, mesmo!".



E acrescenta informações fundamentais: "Marcamos uma concentração e chegou às delegações de Igarapé Miri, Abaetetuba, de todo que é lugar, chegando ao mesmo tempo e isso que até hoje, continuamos lutando e temos problemas internos, claro que temos, ninguém consegue agradar todo mundo. Tem colegas com ciúme do outro, achando que um está querendo aparecer mais que outro, eu penso diferente, que quando estamos lutando, estamos em prol de um objetivo".


O Professor acredita que "Quer melhorar o Módulo, se o Módulo melhorar melhora para todos e estamos ai para tentar alavancar ainda mais este trabalho e nunca esquecendo o compromisso fundamental que é o aluno. Temos nossos anseios, porém, o maior objetivo é o aluno, a gente fica feliz, quando ver nossos alunos aprovados em concursos públicos ou nos vestibulares, que é isto que realiza o Professor. Professor nenhum se realiza com reprovação de alunos. O professor só se realiza, quando o aluno é aprovado e quando o aluno é reprovado, o professor não se realiza porque também é reprovado. Para o Professor Roosevelt, a recepção nas localidades onde funciona o SOME quem faz é o próprio professor, quando assume seus compromissos nas comunidades".


Para ele, "o Módulo em 2003, com a descentralização, perde sua identidade, por exemplo, trabalho hoje em Abaetetuba, e eu não conheço a metade dos quase 100 professores que trabalham no polo. Quando é realizada reunião em Belém, tem colegas que participam que eu não conheço. Estive no ano passado no mês de julho, em Ponta de Pedra, e minha irmã me apresentou uma professora do Módulo, que ela não participa das reuniões da categoria, é isso que faz com que nós não tenhamos identidade, devidas a falta de encontros. Antigamente, nós tínhamos todo ano planejamento, se reunia no antigo CTRH, uma semana e lá tínhamos oportunidade de se integrar, unir, conhecer os colegas, fora isso tinha Encontros Pedagógicos nos colégios, perdemos o CTRH, isso perdeu praticamente a humanização do SOME, criar expectativas quando chega à comunidade e isso que é interessante o professor preservar o respeito que a comunidade, ainda tem pelo Professor, muito embora o Professor não tenha o mesmo respeito pela comunidade, quando digo isso é quando o Professor não cumpre sua parte, o compromisso. Às vezes digo para meus colegas, quando não é possível desenvolver uma atividade extraclasse, pelo menos cumpra o mínimo ou o básico que é trabalhar o seu conteúdo, já é o mínimo que o aluno merece".


Encerra a entrevista, com a certeza que "Com a descentralização, em 2003, o SOME ficou descontrolado, as equipes não eram as mesmas. Hoje, ainda tenho uma equipe coesa, que e necessário em virtude da infraestrutura que não é oferecida aos professores. Tanto na Casa do Professor, quanto no funcionamento do Módulo a equipe conseguiu se estruturar. O Professor fica isolado, não tem televisão, não tem radio, parabólica, gravador, computador, energia. Por isso, quer chegar e logo voltar, Na nossa equipe, nós não temos esses problemas, porque tudo que uma casa tem, nós temos, um Kit completo, ou seja, quando a gente chega numa localidade que não tem energia , nos temos gerador de energia. Quando entra Professor novo, ele vai se adaptando e se sente bem trabalhar com a gente, além de cobrar a participação, apesar de muitos colegas não gostarem de ser cobrados, mas com jeito nos conseguimos amenizar as dificuldades que poderá acontecer. O interessante é que a cada localidade nos temos uma história e quando chegamos aos fazermos o ambiente, respeitando seus hábitos e costumes de cada localidade. Por exemplo, o meu caso, eu constituir família em Rondon. Tudo o que eu tenho foi através do Módulo. Vivo bem, meus filhos estão sendo bem encaminhada, uma filha que faz medicina, o outro faz educação física, o outro estar a caminho da Universidade, tudo fruto do Módulo. Outro local interessante que trabalhei foi em Medicilândia, apesar de muitos colegas acharem longe, mas eu gostei de trabalhar, Porto de Moz, também gostei, Abaetetuba, atualmente trabalhando, adoro também, pelo fato de serem ilhas. Quando você constitui o ambiente, os problemas amenizam. Em Igarapé-Miri, na localidade de Icatu, quando discutíamos naquele momento municipalização, levamos vereadores e outra pessoa qualificada no assunto, para debater se era viável municipalizar ou não, mesmo sabemos que a municipalização gera um caos, municipalizou, mesmo sabendo que é uma questão política, mas houve o debate. Conseguimos levar mais 4 localidades, foram dois dias de debates. E o evento deu certo. E quando você organiza e mobiliza um evento dessa natureza ou outro, você ver gente que chega, parece uma festa, por isso que o Módulo está fazendo 30 anos e esperamos o Encontro em pleno menos quatro localidades".     



sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Curuçá: Um dos municípios que foi o berço do SOME







Com pesquisas e entrevistas que servirão para publicações no Ribaprasempre.com (Blog do Riba), foi realizada conversa informal e gravada entre o Prof. Ribamar, um dos administradores do Blog, Professora Marina Costa e a ex Aluna e Professora Iris do Socorro, do Sistema de Organização Modular de Ensino - SOME que estudou na segunda turma formada pelo Curso de Magistério, no município de Curuçá, nos anos de 1981, 1982 e 1983.



Segundo a entrevistada, o SOME foi fundamental para sua vida, primeiro possibilitou estudar e concluir o Curso no município de Curuçá, onde residia, já que sua família não tinha posses financeiras para mandar estudar no município de Castanhal e quem ia estudar, além de dormir e ficar nas casas dos outros, passavam por cada situação, já que era o local mais perto onde tinha o ensino regular. Na época foi uma novidade, segundo a informante, a maioria dos estudantes que terminavam ensino ginasial não tinham condições de estudar fora, como foi o caso dela. Outro aspecto que o SOME proporcionou foi o avanço do conhecimento para o município, possibilitando melhores perspectivas para os estudantes que desejavam voos maiores, assim como possibilitou também a formação de professores do curso primário, enquanto mão de obra qualificada na zona urbana e na zona rural. Inclusive, durante esses anos, muitos colegas foram formados nos cursos de licenciaturas se tornando professores do ensino regular.  



A ex Aluna, Professora Iris enfatiza também que muitos de seus colegas desse período assumiram diversos cargos públicos com destaques nas decisões do município, como de Secretários de Educação, Diretores de Escolas, Escola Sede, entre outros.



Após a conclusão do Ensino Médio fez os vestibulares e passou em dois cursos: em Letras, na Universidade Federal do Pará – UFPA e Pedagogia, na Universidade da Amazônia – UNAMA. Como era impossível fazer os dois cursos, preferiu continuar fazendo o de Pedagogia. Logo que concluiu, ingressou no SOME, com o circuito: Xingu ara Rio Maria, São Domingos do Capim e Brejo Grande do Araguaia. Esteve também em Muaná, Afuá, Goianésia, Santana do Araguaia, Uruará, Placas, Tucumã, Ourilândia, Medicilândia, Água Azul do Norte, entre outros.



Iris, fala com alegria, felicidades e determinação por ter se formada pelo SOME e depois ser Professora, porém, infelizmente em virtude da nova LDB, saindo o Curso de Magistério, já que trabalhava com disciplinas pedagógicas e ficando apenas o Secundário, teve que pedir remoção para Belém, assumindo cargos de Vice Diretora, Diretora de Escola e Diretora de Use e se aposentando como Diretora. Trabalhou 14 anos no SOME como Professora.



Lembra-se dos bons tempos do SOME, quando rever algumas fotos, inclusive com suas filhas, que hoje são profissionais liberais, com muitas sacolas quando viajava. Diz também que seus alunos do SOME muitos concluíram cursos superiores se tornando, médicos, advogados, juízes, engenheiro e inclusive, com a facilidade das redes sociais, ainda tem contatos com alguns.



Conclui a entrevista abordando que o SOME tem que ser mais valorizado pelo governo do Estado, já que atende o seguimento mais carente da sociedade e que Curuçá, Igarapé Açu, Igarapé Miri e Nova Timboteua formaram o primeiro circuito e experiência do SOME, depois expandindo para o resto do Estado.

quinta-feira, 18 de abril de 2019

Os 39 anos de resistência do SOME







      *João Sérgio












Ao longo de quase quatro décadas de existência, o SOME - Sistema de Organização Modular de Ensino-, constitui importante ferramenta educacional e de transformação social no campo do estado do Pará. Destina-se a levar o ensino médio e, em alguns casos o fundamental, as localidades do interior do estado, nas quais essas modalidades de ensino não são ofertadas. Criado através da resolução no 161/82 de 3/11/82 e incorporado ao sistema de ensino do Pará, sob a responsabilidade da Fundação Educacional do Estado do Para (FEP), o SOME se consolidou como politica educacional.














Em 18 de abril de 1991, as formas regimentais do projeto foram aprovadas pelo Conselho Estadual de Educação (CEE), através da resolução 135. Com base nos estudos realizados sobre o SOME, a Secretaria de Estado da Educação (SEDUC) através do decreto 0390/2003 de 8/9/2003 renomeou o SOME para Grupo Especial de Ensino Modular (GEEM). Em 2014, graças à luta dos professores foi criado o SOME do qual foi efetivado através da regulamentação e sanção da Lei 7.806 (lei do SOME) de 29 de Abril de 2014.














O SOME hoje está presente 96 municípios do Estado e faz parte de 465 comunidades rurais. Conta com um quadro de 1100 professores formado por graduados, especialistas e mestres. Nas comunidades onde está plenamente funcionando, sua importância não se resume apenas a trazer educação ao seu público alvo que é aluno do Ensino Médio, mas também se torna um meio de conscientização e transformação social através da organização social e política das comunidades. Muitos ex-alunos do SOME, são ou ocupam cargos públicos como vereadores, prefeitos, e até deputados na esfera legislativa, e sem dizer de centenas de alunos nas Universidades Federais e Institutos federais de Educação, até mesmo os que se tronaram professores do Sistema Modular de Ensino. Os professores do quadro funcional do SOME, em sua maioria, possuem uma identidade com o trabalho, no qual tem que se dispor e a permanecer longe por 50 dias letivos de suas famílias e amigos, período no qual o profissional deve concluir cada módulo, de quatro dos que compõem os 200 dias e a grade curricular do ano letivo.
















Em todas as localidades onde funciona o SOME, sua presença possui vários significados e importância, um deles é o aspecto econômico. Onde está presente, o SOME movimenta empregos e ajuda a dinamizar o comércio local. As regiões de várzea e ilhas, por exemplo, são de difícil acesso, e contam com a ajuda de ribeirinhos que possuem embarcações capazes de enfrentar baías e rios, com habilidades que só quem conhece pode navegar, é o caso das Ilhas de Abaetetuba. As 21 localidades do SOME que faz acesso por barcos velozes, são conhecidos por rabetas. Outro aspecto importante são os aluguéis de casas para os Professores ficarem alojados durante o período do Módulo, sem essas casas seria impossível a permanência da equipe na localidade, soma-se ao fato de que se deve contratar uma diarista que cuide dos afazeres domésticos para essa equipe, sempre utilizando mão de obra da localidade.



























O SOME como qualquer política pública vem ao longo do tempo sofrendo com o desmonte e escassez de infraestrutura, várias foram às tentativas dos governos recentes, de tornar o SOME inviável. Nos últimos anos o Governo Estadual (PSDB) de Simão Jatene (2010-2018), tentou programar um modelo alternativo de outra modalidade de ensino, a educação à distância mediada por meios de tele aula. Foi criado o SEI- Sistema Educacional Interativo, no qual as aulas seriam transmitidas através de um estúdio localizado na capital Belém, e retransmitidas via satélite, para todas as localidades onde funciona o SOME. Entretanto, as comunidades tiveram a percepção de que seria um enorme prejuízo ao ensino, o que foi rechaçado e amplamente combatido, culminando com sua paralisação através de uma ação civil pública em 2018, impetrado pelo Ministério Público do Estado.
















O SOME, enquanto modalidade de ensino consolidada que faz o atendimento dos alunos de ensino médio, em localidades remotas do Estado, abrange um universo de grupos culturalmente diferenciados que não se limitam as comunidades rurais, mas também as indígenas e quilombolas possuem um grande desafio pela frente, enfrentar não só as dificuldades estruturais, mas também o processo de desmonte e abandono por parte de governos não comprometidos com as comunidades rurais, que não possuem voz, nem reconhecimento social, mas que fazem parte de uma complexa territorialidade e diversidade do território amazônico.













































*João Sérgio Sociólogo, Professor do Some, Especialista em Sociologia e Educação Ambiental, desde 2005 atuando com dedicação exclusiva, lotado na região das Ilhas de Abaetetuba 3º URE.


Fontes:

Modular Notícias

SOME: Gigante do Norte e suas conquistas

Blog do Riba

Imagens dos Professores do SOME


quarta-feira, 17 de abril de 2019

SOME faz 39 anos.






                                                                                    *Danilo  Costa




O Sistema de organização modular de Ensino chega a 39 anos de serviços prestados as diferentes comunidades deste país chamado Pará. Quilombolas, ribeirinhos, indígenas, assentados pelos programas de reforma agrária, etc.









Os professores e professoras que trabalham neste projeto vitorioso estão de parabéns. Principalmente aqueles que realmente se dedicam ao trabalho junto a estas comunidades carentes de tudo enfrentando os mesmos problemas que os comunitários, alunos e alunas. Estradas ruins, esburacadas, pontes ameaçando cair a qualquer momento poucos kilometros se transformam em desafios de off Road. Moradia para professores e professoras precários às vezes sem nenhumas mobiliárias mesas, cadeiras, etc.





O sucesso do SOME apesar das carências pode ser medido não pelos idebs da vida, mas pela digamos mudanças que o conhecimento trás para suas vidas. El locais de nosso estado onde existem projetos em áreas como mineração, agricultura. Os alunos do SOME com ensino médio completo conseguem empregos melhor remunerados. Em outros casos têm organizados cooperativas extrativistas para conseguir um preço melhor para os produtos naturais de suas comunidades.







Dificuldades a parte alguns de nossos alunos e alunas foram aprovados em vestibulares onde a concorrência é altíssima como em Medicina (sim em medicina), fisioterapia, geologia, agronomia, direito e sem falar nas diversas licenciaturas.






É isso 39 anos de um projeto consolidado desde o primeiro circuito que era Igarapé Açu, Curucá, Nova Timboteua e Igarapé Mirim. E.hoje temos centenas de localidades. Esse gigantismo do SOME já deveria a. Seduc torna-lo um departamento em vez de. continuar projeto. Sendo departamento teria verbas próprias para aperfeiçoamento e fiscalização dos professores e professoras
Sentindo o apoio da Seduc em favor dos alunos e alunas. do.SOME.







*O autor é Professor do Some, 55 anos, desde 1992, trabalhando com a disciplina Química, lotado na 18ª URE, com sede no município de Mãe do Rio.














































































































Fontes: SOME - O  Gigante do Norte e suas Conquistas
             
             SOME  -  Abaetetuba

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             Blog do Riba